
Há anos George Pinho escrevia umas prosas sem pé nem cabeça. E se regozijava com a cara de burrego dos leitores. Diziam não ter entendido nada. Ele ria muito e completava: o problema é seu. Mas se cansou de tanto rir dos outros e decidiu escrever contos urbanos realistas. Arranjava pretextos para passear pela cidade. Queria conhecer de perto os tipos populares, presenciar cenas do cotidiano. Anotava num caderno sinopses de histórias. Uma delas teria apenas dois personagens: um mendigo ou menino de rua, drogado, e um poeta popular ou panfletário. A ação se daria numa praça. Que ação seria essa? Que conflito ocorreria? Para encontrar as respostas, quase todo dia passava pela Praça do Ferreira, metia-se em lojas, lanchonetes, bancos, e, principalmente, andava de lá para cá, olhos e ouvidos atentos.