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terça-feira, 28 de agosto de 2007

“Bolha de osso”: estética do inconcluso (Aíla Sampaio)



A Literatura pós-moderna tem como uma de suas principais características o ecletismo. Há espaço para todas as tendências: tradição e modernidade dialogam sem problemas, os gêneros se entrecruzam, legitima-se a pluralidade. Parte da geração 90, especialmente a da prosa, tem abolido o discurso linear e investido na fragmentação do texto, modelo que vem de experiências anteriores como as de James Joyce, Virgínia Woolf e Oswald de Andrade, entre outros transgressores em sua época. A tradição permaneceu ao lado dessas novas invenções. Nelson de Oliveira, no prefácio da coletânea Geração 90 – os transgressores, falando desse assunto, convoca o leitor a “deixar de lado a conotação apenas positiva do termo transgressão e meramente negativa de conservação”. Confirma, assim, a ampliação dos espaços para todas as tendências, ao dizer que tradição e ruptura são “forças equivalentes, ambas trazendo no bojo cargas igualmente positivas e negativas”. A esse respeito, Bauman diz: “Os estilos não se dividem em progressista ou retrógrado, de aspecto avançado ou antiquado. /... / Todos os estilos, antigos e novos, sem distinção, devem provar seu direito de sobreviver, aplicando a mesma estratégia, uma vez que todos se submetem às mesmas leis que dirigem toda a criação cultural, calculada – na frase memorável de George Steiner – para o máximo impacto e obsolência imediata”.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Chão pintado de sangue (Nilto Maciel)













Há anos George Pinho escrevia umas prosas sem pé nem cabeça. E se regozijava com a cara de burrego dos leitores. Diziam não ter entendido nada. Ele ria muito e completava: o problema é seu. Mas se cansou de tanto rir dos outros e decidiu escrever contos urbanos realistas. Arranjava pretextos para passear pela cidade. Queria conhecer de perto os tipos populares, presenciar cenas do cotidiano. Anotava num caderno sinopses de histórias. Uma delas teria apenas dois personagens: um mendigo ou menino de rua, drogado, e um poeta popular ou panfletário. A ação se daria numa praça. Que ação seria essa? Que conflito ocorreria? Para encontrar as respostas, quase todo dia passava pela Praça do Ferreira, metia-se em lojas, lanchonetes, bancos, e, principalmente, andava de lá para cá, olhos e ouvidos atentos.