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segunda-feira, 12 de novembro de 2007

“Carnavalha”: Surrealismo e Carnavalização (Aíla Sampaio*)



“Carnavalha” é o 7º romance de Nilto Maciel, recém lançado pela editora Bestiário (Porto Alegre, 2007). O romance agrada o leitor a partir do trabalho gráfico apurado (o mesmo do livro anterior, a coletânea de contos “A leste da morte” (2006)) até a extensão dos capítulos, sempre curtos e nominados. A história se passa na cidade de Palma, no Ceará, espaço (imaginário) recorrente em livros anteriores, e o leitor fica suspenso no questionamento: a rotina foi modificada pela festa momina ou a cidade é um antro de loucos, que vivem o ‘carnaval’ permanentemente? Afinal, como diz o Zuza: “A cidade é cheia da fantasias. O Carnaval é o cotidiano” (p.147).
A narração faz desfilar uma galeria de personagens que surgem, desaparecem e ressurgem como num desfile de carnaval; o ritmo constante e denso dá a impressão da passagem ‘tumultuada’ de blocos carnavalescos, que é o que constitui, de certa forma, cada capítulo. O discurso do narrador, em 3ª pessoa, predominantemente no pretérito imperfeito do indicativo, um tempo que expressa um fato passado contínuo, coloca o leitor diante de acontecimentos passados, mas de incerta localização no tempo: tudo se passou e parece estar ainda se passando. A idéia de simultaneidade está presente, sobretudo, na quinta parte, quando os capítulos enfocam especialmente um personagem (ou um par), o que é reiterado pela alternância de vozes: o narrador fala e faz ecoar a voz dos personagens, por meio da mistura contínua dos discursos indireto e indireto livre.
Embora o Zuza apareça no início e no desfecho da narrativa, o enredo não tem personagem central – todos estão inseridos no mesmo enfoque delirante do narrador onisciente – a protagonista da obra é a própria vida. Os personagens aparecem invariavelmente submetidos a situações que transpõem a racionalidade, imersos num mundo surreal, que tem a sua própria lei: a do absurdo. Não há nenhum questionamento por parte deles sobre o delírio em que vivem; a transgressão da normalidade aparece como natural. Os acontecimentos que fazem o enredo estão, pois, libertos das exigências da lógica e da razão, vão além da consciência cotidiana e se expressam através do desvario: “Montado num dromedário, Aluísio passeava pelas ruas de Palma. Seguiam-nos outros dromendários, cavalgados por seus amigos de Brasília. Iam pela Avenida Dom Bosco, no rumo da matriz /.../ Súbito os animais se punham a correr pelas ruas, em desabalada carreira. “Sou Lawrence da Arábia. Vocês não me acham parecido com Omar Sharif?”. Aos gritos uma multidão de meninos corria atrás da caravana.” (p.125).
De fato, exatamente como preceitua o manifesto surrealista, “Carnavalha” rejeita “a chamada ditadura da razão e os valores burgueses. Humor, sonho e contra-lógica são recursos a serem utilizados para libertar o homem da existência utilitária. Segundo a nova ordem, as idéias de bom gosto e decoro devem ser subvertidas”. Essa filiação não está apenas no conteúdo, mas na própria forma: percebe-se que “o impulso criativo artístico se dá através do fluxo de consciência despejado sobre a obra”. Há uma ‘avalanche’ de situações que se sucedem, literalmente regurgitadas pelo narrador, e nenhuma obedece à lógica referencial. Vejamos outra passagem, quando o sagrado e o profano se colocam lado a lado: “Foliões invadiam a igreja, escancarando as portas laterais e da frente. Fantasiados, de roupas coloridas, pintados e seminus, gritavam, cantavam e pulavam. Maroca leva as mãos à boca horrorizada:”Padre, padre, veja que profanação!”. Porém os fiéis se misturavam aos carnavalescos e se punham a dançar, pular e cantar /.../ E então o pároco, acolitado ainda por Alzira, surgia às suas costas, não mais de batina, porém vestido de uma capa preta, chifres enormes, um rabo a balouçar, língua de fora /.../ Encapetado, o padre buscava Maroca e a encontrava ao lado do altar. Agarrava-a por trás e fazia menção de violentá-la” (pp.100-101).
Na sexta parte, os fatos surreais são interrompidos, e o bêbado Zuza volta às atenções ao perturbar, com a inconveniência e a sinceridade dos ébrios, conterrâneos e visitantes que brincam o carnaval. Durante o tão esperado baile no balneário, seu corpo aparece boiando na piscina. No capítulo “As Cinzas”, simbólico porque marca o fim do carnaval e o fim também do carnavalesco Zuza, todos são interrogados pelo delegado Pedro Cabral. O romance termina com a descrição do baile e a fala do Zuza, em cima do palco: “canalha, carnalha, canaval, canavalha, carnavalha, carnavalma, carvalha, canavialha, carnavialma, bando de canalhas, macacos, cambada de farsantes” (p.173). A orquestra pára, as luzes apagam e sons conexos e desconexos ressoam na multidão. Como no capítulo anterior sabe-se que o Zuza morreu, supõe-se que tenha sido esse o seu momento final. Nenhuma elucidação do crime, entretanto, é dada ao leitor: suicídio? Assassinato? O romance termina.
Além do imenso elenco de personagens, há uma infinidade de bichos e insetos que pululam o universo delirante de Palma: cachorros, dromedários, cavalos, onças, gatos, galinhas, baratas, aranhas, corujas, ratos, abelhas, todos nivelados ao homem na mesma aparente naturalização do irracional: “O gato miava, agigantava-se, fazia-se onça e saltava ao pescoço do estranho” (p.74) ”/.../ “Eu não entendo como pode um homem se entender tão bem com um cão e deixar de lado a cadela”. A da casa brincava: “Você não queria dizer a cadele?"Vicente se levantava e saía para a rua. Guiomar ia a seu encalço. A mulher corria à porta e se punha a imitar latidos" (p.78). /.../ “O cachorro se punha a latir e caminhava em direção à dona da casa, dentes à mostra. “Ou a senhora fica com ele, ou eu o mando morder as suas nádegas”” (p.85). Um mundo fantasioso se instaura e nada é o que aparenta ser.
Muitos intertextos permeiam a voz do narrador e dos personagens. São passagens de obras ou referência à Bíblia sagrada, a Sheakespeare, Hamlet, Dante Alighieri, Cervantes, letras de música, à carta de Pero Vaz de Caminha: “Alguns homens traziam os beiços furados e nos buracos uns espelhos de pau. Entre eles, cinco ou seis moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas. Traziam suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que mais pareciam meninas” (p.75). Aliás, a Carta está em todo o capítulo “As cinzas”. O nome do delegado é Pedro Cabral e o escrivão, ao datilografar os depoimentos, mantém uma cópia ao lado e fica a repetir passagens. O delegado, ironicamente, vive consultando um “Livro de ditados” e a cada depoimento desfere um como uma verdade irrefutável.
Fora das fronteiras do Fantástico, gênero tão bem exercitado em obras anteriores, “Carnavalha” é um romance ousado, subversivo da ordem e dos cânones tradicionais. O irônico se mistura ao trágico e ao cômico e cria um universo simbólico pleno de representações. Nilto Maciel demonstra total domínio do texto ficcional, autonomia e capacidade de brincar com as coisas sérias. Daí ser impossível ler “Carnavalha” e não referir, também, Bakhtin e sua teoria sobre a ‘carnavalização’ na obra literária. Embora na obra do Nilto o cômico esteja ligado ao trágico – há muito sofrimento, num desmascaramento das agruras da própria existência – nela o carnaval representa a festa dos loucos (festum stultorum) e predomina o realismo grotesco de que fala Bakhtin; há muitas imagens deformadas e exagero, há confusão e dissolução de identidades e a total liberdade de transgredir, inclusive a lógica. Entre o Surrealismo e a Carnavalização, Nilto Maciel escreveu um dos romances mais interessantes que li nos últimos tempos. Vale a pena conferir!

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*Aíla Sampaio, professora de Português e Literatura da Unifor e da SEDUC. Poeta, contista e ensaísta com dois livros de poemas: Desesperadamente Nua e Amálgama.
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sábado, 10 de novembro de 2007

Maneco, futebol e cerveja (Nilto Maciel)




















Morreu ontem Maneco, ou Manoel dos Santos Pereira. Há anos fora dos gramados e da mídia, desde a fratura de uma perna, poucas pessoas devem se lembrar do atacante. Aliás, há raríssimos registros de sua passagem pelos clubes cearenses e muitos dirigentes e cronistas chegam a negar a sua existência como jogador de futebol. No entanto, parentes e amigos são testemunhas de sua vida dedicada ao esporte. A viúva, Maria do Socorro Pereira, afirma ter ele vestido a camisa do Ferroviário em 1963, não sendo certo haver jogado no campeonato estadual. Nelson Silva, amigo de Maneco desde o ano anterior, nega as informações prestadas por dona Maria: “Nunca chegou a um time profissional. Jogava em times de bairros, principalmente do Benfica, das Damas, do Jardim América. Apesar disso, dominava a bola como poucos, driblava a torto e a direito, chutava com os dois pés, fazia gols de primeira”. Outro amigo do craque, Jonas Craveiro, mais velho três anos, lembra do dia da apresentação de Maneco ao Fortaleza, por indicação de um veterano do time. Infelizmente não foi aproveitado, motivo de desgosto para o craque. “Chegou a se embriagar durante vários dias, tão decepcionado ficou”. O historiador Rafael Macedo não nega as informações prestadas pelos amigos de Maneco. Pelo contrário, dá notícia da apresentação do jovem ao Ceará (talvez para se vingar da humilhação sofrida no time rival) e de nova decepção, pois nem sequer teria sido recebido pelo treinador. Jair Pereira, um dos filhos de Maneco, sabe de todas essas histórias e de outras. Segundo ele, o pai procurou todos os clubes da capital e por nenhum foi aproveitado. E é esta a razão de seu desgosto pelo esporte. O que fizeram ao seu pai não foi pouco. Segundo Perilo Duarte, outro amigo do falecido, a causa do fracasso do atacante só pode ter sido a bebida. “Desde muito novo o Maneco vivia na boemia. Eu, ele e outros amigos. Muita cerveja e futebol”.
Para Everaldo Silveira, amigo de infância do falecido, desde menino Maneco queria ser goleiro. Aos domingos, após as missas, realizavam-se jogos na Praça da Matriz de Palma. Pois Maneco não nasceu em Fortaleza, como muitos supunham, mas na pequena Palma. O “campo” lhe parecia enorme. No entanto, talvez não passasse de cinqüenta metros de comprimento. Apenas uma parte da praça. Os rapazes vestiam uniformes coloridos, calçavam chuteiras. Os goleiros se paramentavam de joelheiras e camisas de mangas compridas. Muita gente saía à rua para ver o espetáculo. O garoto achava tudo maravilhoso. Vem desse tempo sua paixão pelo futebol. Da noite para o dia, porém, os jogadores sumiram. Não havia mais jogos na praça. O prefeito ou o vigário devem ter proibido tais jogos diante da Prefeitura e da Matriz.
Maria do Socorro lembra detalhes da infância de Maneco, apesar de se terem conhecido quando jovens, em Fortaleza. O menino morou em três casas em Palma. Casas enormes, de tetos muito altos e chão de tijolo. Quando chovia ou o sol esquentava demais, jogava bola, com os irmãos, na sala ou nos quartos. Os chutes desajeitados levavam a bola para o forro de pano da sala. E nem adiantava cutucá-lo com vara. Nunca mais a veriam. A não ser quando algum pedreiro ou pintor fosse trabalhar, levasse escada e atendesse seus rogos. Ou quando o pai resolvesse trocar o forro. Mesmo assim, as bolas estariam endurecidas, mofadas, rasgadas.
A mãe tinha horror a bolas. Menos aquelas das cartilhas. Mesmo quando os filhos confundiam bola com bala. Então vinham castigos físicos ou de proibição. Três dias sem bola e sem bila. Ou três dias lendo bulas. Mas como viver sempre estudando? No quintal não havia lugar para jogos e brincadeiras. Somente árvores, plantas e animais domésticos. O gato caçava borboletas, a correr e saltar entre as bananeiras. As galinhas iam e vinham, a cacarejar, enquanto o galo passeava galante. Os porcos roncavam no meio da lama. As lagartas infestavam a horta.
Everaldo passa horas a falar do passado. Naquele tempo poucos garotos conheciam bolas de couro. Em compensação, todos tinham “bolas-de-meia” ou “bolas-de-pano”. A primeira denominação seria a do gênero; a segunda, a da espécie. De meia, porque o envoltório da bola era essa peça. Meia usada, furada, imprestável para o uso apropriado. O recheio podia ser de algodão, pano ou papel. Essas bolas não serviam para jogos em chão de terra. E menos ainda em dias de chuva. Os meninos jogavam nas calçadas. Quando não o jogo, os simples chutes de um lado para outro da rua. As paredes serviam de anteparo e, ao mesmo tempo, de linhas de gol. Às vezes dois garotos de cada lado. Um chute para cada “time”. Vencia quem fizesse primeiro de­terminado número de gols. Ao vencedor cabia, como “prêmio” (não seria “castigo”?), jogar, em seguida, com outro “time” ou jogador. Maneco se dedicava de corpo e alma ao futebol. Dedicou-se ao esporte como poucos. Apesar disso, há anos fora dos gramados e da mídia, desde a fratura de uma perna, poucas pessoas devem se lembrar do atacante.
Na calçada, o pequeno goleiro quase voava, em busca da bola-de-meia. Os outros garotos o elogiavam. E ele se enchia de amor-próprio. Sim, quando se tornasse rapaz, iria jogar no Fortaleza. Por muito tempo sonhou tornar-se goleiro profissional. Não conhecia ainda estádio. Não sabia o significado de um espetáculo esportivo. O sonho, no entanto, cedo se desfez, e de forma melancólica. Convidado a treinar num time de futebol-de-salão, engoliu numa tarde mais de sete gols. Um fracasso! Maneco não passou do primeiro treino. Chamaram-no de frangueiro, e nunca mais o convidaram a entrar na quadra. Não o convidaram, é certo, porém voltou muitas vezes a ele, para ver a seleção municipal ser derrotada por times de outras cidades. Nelson Silva desconhece o primeiro fracasso do amigo. No entanto, conheceu muito o atacante: “Nunca chegou a um time profissional. Jogava em times de bairros, principalmente do Benfica, das Damas, do Jardim América. Apesar disso, dominava a bola como poucos, driblava a torto e a direito, chutava com os dois pés, fazia gols de primeira”.
Lembra-se Everaldo daquele tempo como se hoje fosse. Às vezes ia à casa do amigo, para tirar dúvidas de português ou matemática. Porém Maneco não estudava muito. Na hora do estudo, recortava fotos de jogadores e times dos jornais e das revistas e as colava num caderno velho. Passou a gostar de outras fotografias: atrizes de cinema, animais, carros, cidades. Adorava fotos de cidades grandes. Os arranha-céus o fascinavam. Passava horas a catar restos de revistas no lixo. Num terreno ao lado das salas de aula do colégio dos Salesianos. Deviam ter pertencido aos alunos internos.
Havia um “muro” a separar os alunos internos dos externos. Aqueles vinham de outras cidades, sobretudo de Fortaleza. De famílias ricas. Os da cidade, eram quase todos pobres, filhos de comerciantes, funcionários públicos. Nunca os dois lados se misturavam. Brincavam em pátios separados. Até na igreja, construção contígua ao colégio, a separação se manifestava. Os bancos destinados aos internos se situavam na parte mais próxima do altar. Apesar disso, por algum tempo os alunos externos foram convidados a participar das brincadeiras e jogos de fim-de-semana no colégio. Entravam por um portão pequeno, que ia dar numa escolinha para crianças carentes, moradoras da periferia. Havia muitas mangueiras e o rio corria bem próximo a uma cerca. Os internos jogavam num campo grande, com traves, rede, uniformes, chuteiras, bola de couro. Os da cidade ficavam ao largo, chutando uma bolinha ou outra, junto aos meninos mais pobres. Para Maneco, a bola parecia excessivamente pesada. Nunca havia chutado uma bola de couro. Os pés só conheciam as bolinhas de meia. O capim molhado e alto feria os dedos.
Todo garoto de Palma jogava bola. E torcia por um time de Fortaleza. Essa torcida se manifestava também no jogo de botões. Futebol de botões. Cada menino possuía dois ou mais times. Os de Maneco chamavam-se Calouros do Ar e Gentilândia. Os irmãos se dividiam entre Ceará, América, Fortaleza, Ferroviário e Usina Ceará. A viúva do craque, Maria do Socorro Pereira, afirma ter ele vestido a camisa do Ferroviário em 1963, não sendo certo que tenha jogado no campeonato estadual. Não importa se vestiu ou não vestiu. Pois os irmãos de Maneco também não se tornaram jogadores profissionais. Quando os times de um deviam se enfrentar, convocavam um dos irmãos para manejar os botões da equipe secundária. Os campeonatos duravam poucos dias. Aconteciam diversos jogos por dia. A mãe gritava: “Vão tomar banho”; “Venham almoçar”. Os garotos perdiam a noção do tempo, entretidos com os botões, quase todos de paletó. De onde vinham, como os adquiriam? Talvez nos armarinhos. Raspavam as bordas a gilete. E cada botão recebia um nome de jogador. Maneco sabia de cor os nomes de todos eles. Servia de campo uma mala de madeira, antiga, de mais de meio metro de altura. E a bola? Ah, a bola não rolava, porque nada tinha de redonda. Deslizava, atingida pelo botão. Ou voava para o gol, levantada pelo toque sutil ou violento do “jogador”. A bola parecia uma miniatura de panela – uma tampinha de creme dental. A meta, a baliza, o gol, a trave media cerca de dez centímetros de largura, cinco ou seis de altura. Feita de madeira, trazia ao fundo um pedaço de véu ou tecido mais resistente, como se fosse a rede. O goleiro equivalia a uma caixa de fósforos, recheada de pedras.
Desde Palma, Maneco acompanhava transmissões de jogos pelo rádio. Ao se mudar para a capital, não perdeu o hábito. Parava diante das lojas, para ouvir as locuções radiofônicas de jogos, quando voltava para casa, à noite, vindo do Liceu. Caminhava até o ponto do ônibus de Joaquim Távora. Às vezes ia e voltava a pé, com os dois irmãos. Quando perdiam o horário do ônibus ou quando os estudantes saíam às ruas em protestos. Arrancavam os paralelepípedos das ruas Liberato Barroso e Guilherme Rocha, para impedir a circulação dos veículos. Com medo, os motoristas recolhiam os ônibus às garagens. Ou por ordem dos patrões. Quase ninguém nas ruas. As luzes dos postes mal iluminavam as vias públicas. Cachorros ladravam.
Em Monte Castelo, onde a família de Maneco morou pela primeira vez em Fortaleza, havia sempre quermesses, festas populares, religiosas ou simplesmente um alto-falante todas as noites a irradiar canções em voga. Nelson Gonçalves, com “A volta do boêmio”, não parava de cantar.
Jonas Craveiro chora quando lembra do dia da apresentação de Maneco ao Fortaleza, por indicação de um veterano do time. Infelizmente não foi aproveitado, motivo de desgosto para o craque. “Chegou a se embriagar durante vários dias, tão decepcionado ficou”.
Maneco foi sepultado no Cemitério Parque da Paz. Ao velório compareceram apenas os parentes mais próximos e dois ou três amigos e vizinhos.
Fortaleza, 9 de março de 2005.
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