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terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O último voo de Rapina (Nilto Maciel)


















(Criança Geopolítica Assistindo ao Nascimento do Novo Homem - Salvador Dali -1943)


Todos os habitantes de Anipar voaram durante toda a noite passada. No chão, aves pernaltas cantavam sonatas. Tudo parecia sereno, até o mar e seus peixes. No bico de urubus viam-se restos de vísceras de dinossauros. Os últimos sonidos das pedras ecoaram. Um lobo vermelho passeava a resmungar. Estertoravam leões e seus filhotes, mortas as leoas. De madrugada, a primeira pessoa-ave se estatelou. Muito sangue jorrou. As penas das aves se tingiram de vermelho e houve alvoroço no sítio. Famintos, os leões e os urubus se puseram em gritaria. Rapina acordou tarde. E se iniciou a tempestade nos campos de Anipar. Não ficou pedra sobre pedra.
Em Anipar há pouco mais de vinte anos viviam sete famílias. Os chefes dessas famílias descendiam de Serope e Tisuri. Não há notícia da origem do casal. Possivelmente salvos de um naufrágio. Os filhos nasceram na seguinte ordem: Peri, Rosu, Seti, Rose, Suti, Riti, Peso, Tise, Epore, Irusi, Pores, Rusit, Peroe e Risui. Segundo o rei e a rainha, o número de letras dos nomes dos filhos deve ser sempre inferior ao do pai ou da mãe. Formaram-se sete casais, ao longo de sete anos. Casaram-se, sob as bênçãos da rainha- sacerdotisa e do rei-sacerdote, ano após ano, a partir do 14° ano do primogênito Peri, que desposou Rosu. Há pouco mais de vinte anos as sete famílias haviam gerado exatamente 49 filhos.
Rapina apareceu do nada, para espanto da tribo de Serope e Tisuri. Sobrevoou os campos e as casas durante três dias e três noites, para finalmente pousar ao meio-dia do terceiro dia. Suas asas reluziam e de seu bico agudo despontou uma serpente. As crianças corriam, gritavam, choravam, buscavam esconderijos. Os mais velhos armavam-se de pedras e paus. No entanto, a ave se pôs a cantar em tão alto volume de voz que as árvores balançavam, como numa tempestade, e do chão se evolava uma poeira grossa. Ensurdecidos, homens e mulheres se prostraram e se puseram a rezar em voz alta, pedindo clemência ao estranho ser.
Imediatamente após o primeiro cantar de Rapina, toda a tribo caiu num profundo sono e dormiu durante três dias e três noites. Tiveram sonhos horríveis e fantásticos. Contados em voz alta, por ordem Dela, coube ao mais jovem habitante de Anipar anotar um a um os sonhos. Seria o Livro Sagrado da tribo. As tábuas, a tinta e os pincéis surgiram num átimo, a uma ordem da ave. O primeiro a narrar o sonho deveria ser o rei.

(O sonho de Serope) Súbito um trovão. Serope olhou para o céu. Aves voavam espantadas, sem rumo, aos pios. O homem ergueu as mãos, em prece. Gritavam, pediam socorro. Voltou os olhos para a terra: uma fenda se formava aos seus pés. O chão se rachava, se dividia em duas partes. De um lado, ele; do outro, sua gente. Imaginava dar um salto e alcançar o outro lado do abismo. Impossível. As duas bandas de terra se separavam aos poucos e nenhum homem conseguiria, de um salto, passar de um lado para o outro. Precisaria voar. A fenda se estendia cada vez mais. Até que Serope não conseguia mais ver a outra margem do mundo.
Rapina pediu silêncio. Antes do próximo sonho queria falar de asas e vôos. As crianças se agitaram e se aproximaram dela. A ave chamou-lhes de anjos. Ao redor das cabeças dos habitantes de Anipar rodopiavam insetos. Uma revoada de pássaros cobriu o sítio. Assustaram-se galinhas, avestruzes, perus e outras aves, numa algazarra sem fim. Afugentadas das cavernas, miríades de morcegos cobriram as sombras dos homens. Rapina sorria. Costumava realizar vôos cegos pelos confins do mundo. Nunca desistissem de voar, de se movimentar no ar. Sonhassem sempre com o infinito. Voassem alto.

(O sonho de Tirusi) Alvoroço na aldeia. Tisuri havia sumido. Provavelmente engolido por um monstro, pela boca da Terra. Serope ia e vinha pelo sítio, aos gritos de socorro. Corria para lá e para cá. Ensandecida, escorregava e caía à beira do abismo. Tentava agarrar-se às pedras, aos arbustos. Tudo em vão. Perdidas as forças, tragava-a a goela negra do Nada. E descia vertiginosamente. Para seu alívio, avistava o marido, também em plena queda. Abraçavam-se no ar.
Rapina passeou pelo palco e mais uma vez se dispôs a falar. Desta vez de abismos. As crianças se acercaram dela. Adultos pediram calma. Sentassem-se todos. Onde começava e onde acabava a Terra? Seria uma reta, um quadrado, um círculo? À beira dos precipícios não havia normas. O pó das pedras oscilava entre o efêmero e o eterno. Um leão rugia longe. Um rato esgueirou-se entre as rochas à retaguarda de Rapina.

(O sonho de Peri) Primogênito da tribo, Peri falava aos seus irmãos. O sumiço de seus pais lhe dava o direito de assumir o comando da nação. Mais falava, mais se agigantava. Os dedos alcançaram o tamanho de uma pessoa. Assustados, os animais fugiram para o mato. Os súditos, no entanto, permaneciam calmos. Peri prometia descobrir um jeito de dar a todos o tamanho de gigantes. Pronunciassem palavras mágicas. Houve gritaria: quais as palavras mágicas? Peri ergueu os braços, em busca de inspiração, de conhecimento. Gritassem o nome de Serope, o pai de todos. Gritaram, a um só tempo, a palavra mágica. E se deu o milagre: todos se puseram a crescer, enquanto Peri voltava ao tamanho anterior.
Após um longo bater de asas, Rapina se pôs a falar de gigantes. Conhecia a terra dos gigantes. Os animais de lá, no entanto, não pareciam diferentes dos demais. Os bebês nasciam do tamanho de elefantes adultos. O choro deles espantava as feras e fazia tremerem árvores e chão. Quando dois gigantes se punham a brigar, os outros, principalmente mulheres e crianças, choravam e se retiravam para muito longe do palco da contenda. Um dos brigadores arrancava uma árvore como se despegasse um arbusto e a arremessava contra seu adversário. Rochas enormes eram atiradas. Ao final, feridos, cansados, os dois caíam. Alguns não suportavam os ferimentos e morriam.

(0 sonho de Rosu) Ao ver Peri encolher, enquanto os outros cresciam, Rosu o abraçou, aos prantos. E se ele encolhesse tanto, a ponto de virar nada, desaparecer? Desesperada, soprou-lhe nos ouvidos. Ele gritou de dor. Não, não queria ensurdecer. Desse-lhe um beijo prolongado. Mostrava-lhe a boca, os lábios. No entanto, em vez de sentir desejo de beijá-lo, Rosu sentia asco do marido, porque de sua boca emergiam larvas e insetos. Ele se debatia, no chão, gritava, chorava, pedia socorro. Subitamente saltaram-lhe das entranhas sapos, cobras e lagartos. E Peri se sentiu aliviado e deixou de decrescer.
Rapina impediu o prosseguimento das narrações de sonhos. Precisava falar dos seres nauseabundos. Muitos engolem seres sujos, vindos da podridão. Alguns permanecem aparentemente limpos, apesar disso. Catou-se com o bico, urinou e defecou diante da platéia. As crianças riram. Ensinar-lhes-ia como evitar a náusea e o vômito. Cada um catasse, no mato próximo, quaisquer insetos, baratas, joaninhas ou outros animais pequenos. Chupassem-nos e depois comessem-nos aos poucos. Ao sentirem os primeiros indícios de náusea, olhassem para o céu. Fosse o Sol uma barata amarela perdida na boca do Espaço, seria a Lua uma joaninha dourada.

(O sonho de Seti) Ventos fortes e contínuos varriam a Terra. As pessoas se agarravam aos troncos das árvores, às rochas, buscavam refúgio em cavernas. Seti comandava a salvação da tribo. Somente ventos amigos poderiam afugentar os ventos inimigos. Todos, pois, a postos na tarefa de criar ventos amigos. Soprassem com todos as forças. Afastassem os ventos inimigos. E todos se puseram a soprar. Uns se cansavam logo e caíam exaustos. Os menos cansados alentavam-nos com água fria. A idéia de agigantarem-se tomava novo alento. Quanto mais corpulentos, mais fortes ventos produziriam. Chamassem Peri. Somente ele conhecia a arte do agigantamento. No entanto, Peri havia desaparecido.
Como se despertasse, Rapina agitou a penugem. Não apenas males causavam os ventos. Sem eles não voariam as aves. E voar significava liberdade, novos horizontes, descobertas. Ela, então, por voar, sentia-se dono do próprio nariz, do próprio bico. Sim, as aves de rapina e sua fome, as aves agourentas e suas lendas, os urubus e sua sanha. Conhecia todas elas. No entanto, todas necessárias ao conjunto da vida. Certa feita atacaram-na dezenas de falcões. Um desespero. Quanto mais fugia, rumo ao infinito, furando nuvens, esquivando-se de raios, quanto mais se afastava da atmosfera, mais o grito de morte dos falcões a enlouquecia.

(O sonho de Rose) Deitada junto ao tronco de uma árvore, Rose descansava, olhos fechados, pensamentos em revoada. Ouvia um chiado distante. Talvez as águas do riacho. Súbito uma picada no pescoço. Arregalava os olhos e se espantava: um vampiro sugava-lhe a garganta. E outros, inúmeros vampiros a atacavam. Mordiscavam-lhe os seios, as pernas, o ventre. Tentava livrar-se deles, afugentá-los. Debatia-se, aos gritos, e nada de os morcegos se retirarem. Sangue jorrava em todo o seu corpo. Desesperada, Rose intentava fugir. Estonteada, caía, resvalava no chão, reerguia-se, tombava. Enfurecidos, os seres mais cravavam nas carnes da moça os incisivos pontiagudos.
A ave sorriu. Não inventassem histórias. Contassem apenas os sonhos. E não omitissem nada. Antes da próxima narração, no entanto, queria contar uma historinha: "Já vivi numa gruta. Minha mãe se havia refugiado, com três filhotes, nessa gruta. Fugia dos predadores. Mal imaginava ela o que nos esperava. Ao perceber a presença dos morcegos, quis fugir. Nós, os filhotes, no entanto, já não tínhamos forças para novas aventuras. Mal sabendo voar, enfraquecidos, morreríamos, se buscássemos outros refúgios. Nossa mãe não dormiu durante um dia, olhos pregados em seus filhos. Os morcegos voavam a todo instante. Um deles pousou aos pés dela. Enfurecida, ela o bicou. Ensangüentado, ele voou”. As crianças, boquiabertas, aguardavam um final feliz. “Mais tarde contarei o resto da história. Agora vamos a outro sonho”.

(O sonho de Suti) Toda a tribo dormia. Suti acordava sobressaltado e abria a porta da tenda. Nada conseguia ver. Nenhuma estrela, nenhuma luz. Um nevoeiro forte tornava o mundo escuro. Caminhava sem rumo. Esbarrava num animal aparentemente morto. Parecia um urso. Seguia sem rumo. Ouvia urros e se assustava. Voltava-se e via um bicho gigantesco a se movimentar em sua direção. Buscava grutas onde pudesse se esconder. O urso se aproximava cada vez mais. Suti tentava correr, porém seus pés se atolavam no chão, na lama. Punha-se a gritar e mais a fera se irritava. E lançava aos olhos do homem um monte de lama e gelo.
A meninada pedia mais emoções. Suti teria conseguido se salvar das garras do urso? Rapina impôs silêncio. Quando jovem, muito jovem, num dia de muito nevoeiro, perdeu-se de sua mãe. Pousou num galho coberto de gelo e adormeceu. O vento frio soprava com força. De repente surgiu uma serpente, enroscando-se nos galhos da árvore. Como voar, se as asas se haviam congelado? Pôs-se a bater as asas. Espantado, o réptil fugiu. Uma parte das crianças queria o fim do sonho de Suti, outra preferia a história da ave. Talvez fosse hora do almoço. Caçaram, pescaram, colheram frutos? Sim, duas pacas restavam para a próxima refeição.

(O sonho de Riti) Andava, sozinha, por uma trilha estreita. Gotas de chuva molhavam-lhe o rosto. Um clarão medonho inundou o céu. Raios, muitos raios atingiam árvores. Iniciava-se um incêndio. Riti buscava refúgio sob rochas. O mundo parecia todo iluminado de uma luz intensa, da cor de ouro. Os animais corriam para lá e para cá, amedrontados. Riti saltava ao lombo de um búfalo e gritava para que corresse, fugisse. O animal saía aos pulos, a se esquivar da chuva intermitente de raios. Abria a boca para cima, como se quisesse beber a tempestade. E de fato os raios sumiam, aos poucos, engolidos pelo búfalo. Riti o fazia estacar: "Guarde os raios em sua barriga. Quando precisarmos de fogo e luz, você os terá”.
A grande ave bateu palmas, abriu desmesuradamente o bico e emitiu um grito de fazer tremerem os galhos das árvores. Bastava! Nada de narrações prolongadas. Fossem breves. Quando criança dormia ao ouvir histórias longas. O pai beliscava-lhe a cabeça, a mãe puxava-lhe as penas. Como doía ouvir histórias sem fim! Um garoto pediu licença para falar: queria saber se os búfalos engoliam fogo de verdade. Uma garota se ergueu e gritou: “É por isso que eles babam sem parar”.

(O sonho de Peso) Não era noite e não era dia. A luz do céu se apagava a todo instante, aqui e ali. No chão surgiam sombras de formas variadas: círculos, triângulos, quadriláteros. As crianças brincavam com as sombras. Quem fosse atingido por um círculo viraria estátua. As mulheres fugiam dos triângulos, apavoradas. Os homens mais corajosos pisavam o chão com ira. De ninguém se formava a sombra, como se todos fossem translúcidos. Exceto Peso. A sombra dele se movimentava, quando ele se movia. Os outros perceberam o fenômeno e se puseram de joelhos diante de Peso. E uma luz intensa tomou conta daquele pedaço da Terra.
A meninada permaneceu quieta e silenciosa, após calar-se Peso. Seus olhos arregalados emitiam luzes de pirilampos. Rapina sorriu e bateu as asas: “Vamos, acordem. O sonho acabou”. Segundo ela, as sombras não representam as trevas. Podem significar manchas, como as que surgem nos corpos vivos. Ou nódoas, máculas no espírito. Talvez o sonho de Peso tivesse um valor subjetivo. As crianças continuaram como em sonho. Algumas fecharam os olhos. Outras se arriaram no chão ou nos colos maternos.

(O sonho de Tise) Sentada ao pé de uma árvore, Tise meditava. O sol se escondia devagar. Pássaros voavam em cantos vibrantes. Súbito escureceu. Tise imaginou a noite das trevas. Olhou para as montanhas e não as viu. Dirigiu a vista para o arvoredo e nada enxergou. Contemplou sua casinha e não a avistou. Observou as pernas e tudo lhe pareceu vazio. Ainda sentada, chamou, aos gritos, Peso e os filhos. Percebeu a chegada deles, e também não os viu. “Estou cega ou é a grande escuridão?”
Rapina bateu as asas, como se batesse palmas. Deu parabéns a Tise. Belo sonho, bela narrativa! Continuassem nesse ritmo, mas nada inventassem. Fossem fiéis aos sonhos. E meditassem no seguinte: A escuridão está fora de nós ou dentro de nós? Um garoto se manifestou: “Às vezes a escuridão está fora de nós, quando escurece. E pode estar dentro de nós, se dentro de nós for sempre escuro”. A ave sorriu e fez um elogio ao menino. Uma garota quis competir com o colega: “Quando fecho os olhos tudo fica escuro. Então a escuridão só existe quando fechamos os olhos, quando queremos a escuridão”. Mais elogios de Rapina: “Vocês são muito claros, meus filhos. Procurem ser sempre assim: nunca sejam escuros”.

(O sonho de Epore) Sentia-se Epore perdido numa caverna, verdadeiro labirinto. Metia-se num trilho, a imaginar a saída, e mais se encafuava. Gritava, a pedir socorro. E seu grito ecoava longe, como se outras pessoas também pedissem socorro. Cansado de tanto caminhar, sentou-se à beira de um lago, viu-se no espelho da água e falou à imagem: “Epore, você está me vendo?” A pergunta correu em todas as direções. Gostou da experiência e bradou: “Nós precisamos sair daqui”. O eco de suas palavras parecia um lamento. Decidiu falar continuadamente o seu nome, bem como o de seu pai, o de sua mãe, o nome de cada um de seus irmãos, até que algum fenômeno ocorresse. E depois de mil ecos uma explosão se deu, uma luz surgiu, a saída – a salvação – se apresentou.
A grande ave permaneceu calada por alguns instantes, como se esperasse ouvir mais um ato da narrativa de Epore. No entanto, o marido de Irusi já se tinha sentado, a demonstrar nada mais ter a contar. Rapina balançou a cabeça e se fez sisuda: “Você certamente andou ouvindo histórias da mitologia grega”. As crianças quiseram ouvir o resto do sonho: Epore conseguira sair da caverna? Por que os ecos causaram a explosão? Rapina não quis dar a palavra a Epore e anunciou a vez de Irusi contar seu sonho.

(O sonho de Irusi) O céu escurecia. Nuvens baixas pintavam o horizonte de cor de cinza. Iniciava-se a chuva. Os moradores de Anipar corriam para suas cabanas. Irusi decidia permanecer ao ar livre. Chamavam-na Epore e seus filhos. O aguaceiro se agravava. Diante das choupanas formava-se um riacho. Irusi retirava as vestes e mergulhava na correnteza. Meninos e meninas ajuntavam-se a ela. O riacho se transformava em riachão. As águas carregavam algumas choças. Animais tentavam fugir para o seco, nadavam e se afogavam. O riachão se convertia em rio caudaloso. As árvores desapareciam. Irusi não via mais ninguém. As águas cobriam o mundo. A mulher buscava uma tábua de salvação. No entanto, só havia água ao redor de Irusi.
Rapina ergueu a cabeça, abriu os olhos e olhou nos olhos de cada um dos aniparenses. Os derradeiros sonhos talvez fossem os mais aterrorizantes. Preparassem-se para o final do dia e da história. “O dilúvio está no inconsciente de todos. Mas pode não ser a maior catástrofe”. As crianças tiritavam de medo. Queriam brincar, em vez de ouvir narrações de sonhos. A ave não permitiu dispersão do grupo. Restavam somente quatro sonhos. Tivessem um pouco de paciência. “Ouvir histórias também é diversão”. Pediram comida. Rapina pediu silêncio.

(O sonho de Pores) Andava Pores e seus pares pelas plantações. Uns colhiam frutos, outros arrancavam mandiocas; uns espantavam passarinhos, outros afastavam espantos. Um gafanhoto pousou diante de Pores, e outro e mais outros. Num repente milhares de gafanhões comiam e devoravam tudo ao redor de Pores e seus parentes. Os espantadores de passarinhos viraram enxotadores de insetos. E todos se punham a gritar e açoitar o ar e o chão com galhos de árvores. Nada, porém, impedia a sanha e a fome dos saltadores. Desesperados, homens e mulheres fugiam daquele inferno. Corriam para lá e para cá, e para onde iam davam de cara com a praga. Exausto, Pores tombava. Os gafanhotos o cobriam, prontos a devorá-lo vivo.
A ave demostrava cansaço e sono. A meninada se espichava no chão, cabeças nos colos das mães. Rusit coçava a cabeça, ansiosa por contar o seu sonho. Sossegasse um pouco – aconselhava o olhar de Rapina. Antes meditassem no sonho de Pores, na praga de gafanhotos. “As pragas acontecem não apenas quando a natureza é molestada pelo homem, mas também quando quer dar equilíbrio à vida”. Serope não gostou das palavras da ave. Bastava de filosofices. Rapina se fez circunspeta. “Um rei não deve melindrar os estrangeiros que visitam seu reino. Estou aqui em missão de paz. E não apenas isto: Vim mostrar o caminho da salvação”. O silêncio se instalou no recinto. “Rusit, é a sua vez.”

(O sonho de Rusit) Deitada numa relva, Rusit ora fechava, ora abria os olhos. Borboletas sobrevoavam o corpo da moça e pousavam nas ervas. Maravilhada, Rusit se punha a cantar e falar aos insetos: “De onde vieram vocês?” Eles não paravam de dançar no ar: “Nós somos anjos”. A jovem ria. Não acreditava no que via e ouvia. “Anjos são invisíveis”. Eles desapareciam por um instante. “Onde estão vocês?” Assustada, ela se erguia e fazia menção de fugir. “Volte, Rusit. Estamos aqui para protegê-la”. E a cercavam, aos milhares.
Rapina cravou os olhos em Rusit: “Os sonhos bons devem ser longos”. Um garoto quis saber se eram anjos ou borboletas os seres do sonho da moça. A ave deu a resposta: “Os anjos estão presentes nos sonhos dos poetas e dos sensíveis”. O menino insistiu: “E as borboletas?” Rapina não titubeou: “As borboletas são anjos também”. Passarinhos passaram em bando no rumo da montanha. “São anjos ou passarinhos?” Rusit quis voar. Deram-lhe água fresca.

(O sonho de Peroe) Dançava a tribo ao redor de uma fogueira. Em dado momento Peroe se viu frente a frente com Risui. Uma labareda alta se formou e Risui desapareceu aos olhos de Peroe. E a cada volta em torno da fogueira Peroe perdia de vista mais um aniparense. Até que o homem deixou de ver todos os outros. No entanto, via a fogueira, as árvores, o chão, o céu. As pessoas se tinham feito invisíveis. Apenas invisíveis, eis que Peroe as tocava, ouvia, e sentia-lhes o cheiro. “Vocês estão me vendo?”
Rapina se disse apavorada, apesar de já ter vivido dias e noites de extrema tribulação. “A invisibilidade é um atributo dos deuses”. Peroe se prostrou diante da ave. “Levanta-te, homem, pois não sou uma deusa”. Risui se curvou aos pés do marido e se pôs a adorá-lo. Crianças choravam, cheias de medo. Rapina pediu calma e silêncio: “Murilo Mendes escreveu – o invisível não é irreal; é o real que não é visto”. Houve gritaria geral. Estariam fadados à invisibilidade? Como viver sem ver os pais, os filhos, as esposas, os maridos, os amigos? A ave se irritou: Pois se preparassem para a eterna invisibilidade.

(O sonho de Risui) Uma voz sussurrava ao ouvido de Risui: “Vai começar o período das transformações”. A moça não se assustava, apesar de não saber quem lhe falava. “Todos vocês serão transfigurados em animais, plantas e objetos”. Risui suplicava: “Não me transforme em serpente, por favor” E à sua frente foram aparecendo acauãs, bonecos, cactos, doninhas, éguas, flautas, gerânios etc. Concluída a metamorfose – Risui se viu feita jequitibá –, a voz se exaltou: “Agora estamos num tempo anterior ao homem. Tudo é apenas natureza. Nada de cultura. Vivam, pois, no Paraíso”. E se calou. Risui queria falar, locomover-se, abraçar Peroe e os filhos, porém só conseguia mover galhos e folhas e emitir sons sem significado. No entanto, – consolava-se – podia ver e entender quase tudo, quando antes só via o mais próximo de si e entendia pouco de pés, chão, árvores, seres vivos.
Rapina iniciou um canto de louvor e alegria. As pessoas riram e se puseram a dançar em ciranda. Ela voou para o centro da roda, abriu as asas, balançou-as pausadamente, provocando vento. Pediu silêncio por um instante. Daquele momento até o anoitecer todos deveriam se dedicar a jogos, corridas, danças, banhos no rio e nas cachoeiras e tudo o mais que os divertisse. Ao se pôr o sol, exaustos, todos deveriam se dirigir à grande cabana, para o sono coletivo. “Nesta noite vocês terão sonhos espetaculares. Num deles eu voltarei a voar e lhes darei asas. Voaremos, em bando, pelos céus mais altos, até alcançarmos o éden, o paraíso, a terra-sem-males, onde viveremos para sempre. Em outro sonho, o chefe espiritual de vocês, o pajé, o xamã, seja lá como o chamem, dará a seguinte ordem: “Enquanto ela estiver dormindo, vocês amarrarão pernas e bico e arrancarão as penas. Impedida de voar e de me defender, vocês a sacrificarão, queimarão e comerão a carne, para que adquiram os poderes dela”. O terceiro sonho terá um pouco de cada um dos outros, com um final diferente: Eu me livrarei de vocês e voarei para o mais longe daqui, para nunca mais voltar, e vocês ficarão nesta terra como sempre estiveram.” Boquiabertos, os habitantes de Anipar se prostraram diante da ave: Não, não queriam aqueles sonhos. Não queriam o paraíso nem voar nem devorar Rapina. Queriam apenas a mesma vida de sempre. A ave não lhes deu ouvido: “Quem não tiver os sonhos já programados dormirá para sempre”.
A aldeia amanheceu coberta de sombras estranhas, como se grandes aves voassem serenamente.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Gilberto Mendonça Teles: 50 anos de poesia (Adelto Gonçalves*)


(GilbertoMendonça Teles)


Meio século de poesia não é para qualquer um. Ainda mais se a poesia é de alta qualidade. Pois foi exatamente meio século de atividade poética que Gilberto de Mendonça Teles comemorou em 2005. Para assinalar a data, Eliane Vasconcellos reuniu no livro A plumagem dos nomes/Gilberto: 50 anos de Literatura, de 812 páginas, não só poemas dedicados ao poeta – entre os quais se destacam dois saídos da pena de Carlos Drummond de Andrade em 1970 e 1971 – como poemas do autor traduzidos para outros idiomas, além de depoimentos, resenhas e ensaios publicados em jornais e revistas, prefácios, excertos de teses e dissertações, entrevistas do homenageado, cartas recebidas e fotografias de várias épocas.
Que o livro só tenha saído em 2007, pela Editora Kelps, de Goiânia, com o apoio da Secretaria de Cultura da Prefeitura local, explica-se pela dificuldade da organizadora em juntar tão farto material sobre o poeta. Além de textos publicados em jornais e revistas de todo o mundo lusófono, reúne as comunicações apresentadas no seminário “50 Anos de poesia de Gilberto Mendonça Teles”, realizado de 10 a 14 de outubro de 2005, na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro.
Deste articulista, consta a resenha “A influência de Camões no mundo lusófono”, publicada no suplemento Das Artes Das Letras d´O Primeiro de Janeiro, do Porto, de 18/7/2004. De autores ligados a´O Primeiro de Janeiro, consta ainda o prefácio que Arnaldo Saraiva, professor de literatura brasileira da Universidade do Porto, escreveu para Falavra (Lisboa, Dinalivro, 1989), destacando que Gilberto Mendonça Teles pertence à raça dos poetas-professores, uma linhagem que abriga nomes como Samuel Beckett, Dámaso Alonso, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Manuel Bandeira e Cecília Meireles, entre outros.
Mas há ainda contribuições de outros críticos e professores portugueses, como Agostinho da Silva, Fernando Cristóvão, Jacinto do Prado Coelho e João Bigotte Chorão e da professora Vânia Pinheiro Chaves, há muito tempo radicada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Além, é claro, de textos de grandes poetas brasileiros como João Cabral de Melo Neto, Murilo Mendes, Joaquim Inojosa, Ferreira Gullar, Ledo Ivo, Manuel Bandeira e Ivan Junqueira e críticos e professores como Alceu de Amoroso Lima (Tristão de Athayde), Afrânio Coutinho, Alfredo Bosi, Antonio Carlos Secchin, Fábio Lucas, José Guilherme Merquior, Adriano Espínola, Fernando Py, Leodegário A. de Azevedo Filho, Silvio Castro e Melânia Silva Aguiar, bem como estrangeiros de renome como o crítico espanhol Carlos Bousoño, o poeta espanhol Jorge Guillén, o alemão Curt Meyer Clason, tradutor de Guimarães Rosa, e a professora italiana Luciana Stegagno Picchio.
II
Gilberto Mendonça Teles nasceu em 1931 em Bela Vista de Goiás, antiga Suçuapara, e morou em várias pequenas cidades do interior goiano, acompanhando a saga do pai comerciante. Viveu em Goiás até 1965, quando, já professor experiente, ganhou bolsa para estudar em Lisboa e Coimbra. Depois, já professor concursado da Universidade Federal de Goiás, lecionou de 1966 a 1970 no Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro, em Montevidéu, por conta do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Foi aposentado em 1969 por ato discricionário do regime militar (1964-1985) em 1969, o famigerado Ato Institucional nº 5, tendo se transferido no ano seguinte para o Rio de Janeiro, onde começou a lecionar Literatura Brasileira e Teoria da Literatura na PUC-RJ, apesar das investidas da polícia política da ditadura. A seguir, transferiu-se para Porto Alegre, onde obteve os títulos de doutor em Letras e livre-docente em Literatura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Em 1983, foi nomeado professor catedrático visitante de Literatura Brasileira na Universidade de Lisboa, onde ficou até 1985. Depois, transferiu o cargo de professor titular da Universidade Federal de Goiás para a Universidade Federal Fluminense, aposentando-se nele em 1990.
Apesar de todo esse périplo, é natural que a paisagem goiana assuma-se como pano de fundo de boa parte de sua produção poética. A paisagem, no entanto, é apenas pretexto para evocar a infância, as lendas do sertão e as figuras que povoaram o seu tempo de menino, numa poesia que lhe permite homenagear a terra natal, como o faz em “Lira Goiana”, de Saciologia Goiana, que reúne poemas escritos entre 1970 e 1981: (...) quero ser como um instante de arco-íris/ nos olhos das mulheres de Goiás.
Situado arbitrariamente na geração de 45, provavelmente porque em seus primeiros versos ainda convirjam influências parnasianas e simbolistas, Gilberto Mendonça Teles é um legítimo representante da geração de 60 não só por uma questão de idade como por praticar uma poesia impregnada de irreverência, inconformismo e, especialmente, experimentalismo, como são prova os poemas de Improvisuais, livro parcialmente inédito até a edição de Hora Aberta: poemas reunidos, que saiu em 2003 pela Editora Vozes, de Petrópolis-RJ, com organização de Eliane Vasconcellos e prefácio (que mais é um estudo introdutório) do professor Angel Marcos de Dios, catedrático da área de Filologia Galega e Portuguesa da Universidade de Salamanca, Espanha.
Hora Aberta guarda algumas das experiências mais avançadas já feitas em poesia – que se confundem com arte fantástica, surrealista, sem deixar de recordar os experimentos dos concretistas. Lírico assumido – “No fundo, eu sou mesmo é um romântico inveterado”, diz na abertura do poema “Modernismo” de Cone de Sombras, que reúne peças escritas entre 1980 e 1985 –, o autor chegou, no 50º aniversário de sua atividade poética, a um estágio em que seu trabalho já prescinde dos rótulos e começa a influenciar novas gerações.
III
Ao estrear em 1955, aos 24 anos de idade, com Alvorada, e publicar logo depois, em 1956, Estrela d´Alva, ambos em edição de autor, e Planície, em 1958, ainda em Goiânia, Gilberto Mendonça Teles já despertara a atenção pelo lirismo que marcava seus versos. Não houve quem, ao resenhar seus primeiros livros, não saudasse o aparecimento de um poeta lírico e de aspirações nobres e previsse produções futuras da melhor qualidade.
Com mais de mil e cem páginas, Hora Aberta, além de abarcar 16 livros, quase todos premiados, inclui Álibis (2000), Arabiscos (inédito) e Improvisuais, cujos poemas têm sido divulgados em antologias. Traz na íntegra os dois primeiros livros, Alvorada e Estrela-d´Alva, de que se havia publicado – nas três edições anteriores – uma pequena seleção, reunindo ainda Poemas Avulsos, saídos à luz em jornais e revista antes da estréia e, no fim do volume, Caixa-de-Fósforo, aparecido em 1999.
Ao optar por reunir na abertura suas produções mais recentes, como as peças de Arabiscos, o autor convida o leitor, logo de imediato, a conhecer o seu estágio atual como sinalização autocrítica para o que veio antes. Dessa maneira, é possível, de modo inverso, acompanhar o percurso de um trabalho que pode ser dividido em três
passagens, como sugere no prefácio o professor Angel Marcos de Dios.
A primeira compreende o período de assimilação das técnicas retóricas dos clássicos, românticos, parnasianos e simbolistas, que corresponderia aos dois livros iniciais em que o poeta dirige-se ao seu “eu-poético”, voltado apenas para o seu interior, suas emoções: Deixa rolar no caos do pensamento largo/ a profunda amargura, o sofrimento amargo/ que habitam na tua alma entre ânsias sufocadas,/ entre anseios de amor e esperanças frustradas, diz no poema “Exortação” incluído em Alvorada.
Versos juvenis, os poemas de Alvorada trazem em seu bojo as matrizes românticas que presidem as primeiras manifestações do poeta, como se vê em “Lamento”: Pobre de ti, não tens uma ilusão sequer!/ Nunca provaste um lábio ardente de mulher/ virgem. Pungentes ais, nem suspiros tiveste/ De um seio de mulher. Qual sombrio cipreste/ passaste a mocidade à beira de um jazigo,/ desse jazigo obscuro e que trazes contigo/ dentro do coração, onde, parvo, enterraste/ todo o teu ideal e tudo o que sonhaste. No artista ainda jovem, surpreende a domínio que exibe da métrica tradicional, embora nunca deixe de acrescentar aspectos de renovação aos sonetos.
Já a segunda passagem do itinerário começaria com Planície, seguindo até Arte de Amar, de 1977, em que o poeta já se mostra mais preocupado com a linguagem. É exatamente a fase em que Gilberto Mendonça Teles alcança o reconhecimento como um dos críticos mais importantes do País, autor de pelo menos três obras fundamentais nos estudos literários: Drummond – a Estilística da Repetição, de 1970, Camões e a Poesia Brasileira (hoje na 4ª edição, revista e aumentada) e Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro (hoje na 16ª edição), ambos de 1972.
Da segunda etapa, são pelo menos três grandes livros – Sintaxe Invisível, de 1967, A Raiz da Fala, de 1972, e Arte de Amar, de 1977. De A Raiz da Fala, é o poema “Signo” em que as experiências com metalinguagem se radicalizam: A tua forma é o movimento/ da música na fraude do pântano./ O teu rasto, o sinal cifrado/na linguagem do mar.
Neste período, que duraria quase duas décadas – pouco mais que o tempo de uma geração, segundo o célebre critério de Ortega y Gasset –, muitos críticos acreditam que a poesia de Gilberto Mendonça Teles tenha alcançado o seu maior grau de transcendência, o que deixaria supor que, a partir daí, teria entrado em declínio. Essa avaliação, no entanto, não corresponde à verdade porque é na fase seguinte – a atual – que o poeta aparece livre de todas amarras e influências, com uma linguagem própria, inconfundível.
Essa terceira fase, que se refere aos livros mais recentes, é de uma poesia mais denotativa, com uma linguagem o menos metafórica possível que busca decididamente a ironia e o humor. É marcada não só por um retorno à infância como por um psiquismo doloroso inspirado nas idéias de Gaston Bachelard, que, aliás, oferece a epígrafe que abre Plural de Nuvens, livro que reúne poemas escritos entre 1982 a 1985.
Se tudo o que o poeta toca não vira ouro, a exemplo do Rei Midas, pelo menos se transforma em linguagem: Tudo em mim é desejo de linguagem, diz o primeiro verso de “Poiética (fragmento)”, poema de Álibis, de 1997, que bem define a sua atual fase. Esse verso, aliás, pode ser tido como a metáfora-catalisadora de sua obra, até porque resume a atitude poética que levou muitos críticos a considerá-lo o “poeta da linguagem”, epíteto que desde então o acompanha.
Em “Poiética (fragmento)”, a contradição entre razão e experiência está posta de forma rigorosa: (...) minha própria emoção, esta passagem/ à espessura das coisas, o convite/ ao mais além da sombra e do limite/ e esta confirmação da realidade/ na plumagem dos nomes, na verdade,/ têm seu lado e segredo, é pura essência/ do que se fez em silêncio e reticência. O entendimento não alcança o que vai além do corpo, mas a poesia pode intuí-lo: (...) a criação se dá quando o perdido/ se transforma em sinal que alguém atende,/ alguma boa fada, algum duende,/ uma força maior que nos excita/ a deixar logo alguma coisa escrita.

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A PLUMAGEM DOS NOMES/GILBERTO: 50 ANOS DE LITERATURA. Organização, introdução e notas de Eliane Vasconcellos. Goiânia: Editora Kelps, 2007, 812 páginas. E-mail: kelps@kelps.com.br
HORA ABERTA: POEMAS REUNIDOS, de Gilberto Mendonça Teles. 4ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2003, 1113 páginas. E-mail: editorial@vozes.com.br

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(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: adelto@unisanta.br
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