Todos os ventos (Nova Fronteira, 2002), volume que reúne a obra poética de Antonio Carlos Secchin, de fato demonstra o que, em seu prefácio, observa Eduardo Portella: se houvesse alguma dúvida sobre a qualidade da obra deste poeta – que é, ao mesmo tempo, um dos mais renomados ensaístas e professores de literatura do Brasil –, esta seria dissipada pela riqueza da obra reunida neste livro. Na verdade, podem guardar tais dúvidas apenas os que desconhecem a instigante trajetória poética secchiniana – na qual ressalta, sobretudo, a ousadia do poeta que peregrina entre líricas paragens (“Um sol sagrado afronta meu sossego / e faz do medo sua dor e dote”), irônicas instâncias (“A poesia está morta. / Discretamente, / A. de Oliveira volta ao local do crime.”) e horizontes reflexivos (“Poemas são palavras e presságios,/ pardais perdidos sem direito a ninho.”).
Antonio Carlos Secchin não hesita em explorar a miríade de potencialidades da poesia, e é precisamente este gosto pela experimentação o que determina sua fartura, tanto de temas quanto de registros. A lira soa como o poeta a faz soar: pode tanto ser afinada pelo diapasão simbolista (veja-se “Cisne”, à maneira – e à memória – de Cruz e Sousa) quanto assumir uma dicção próxima do coloquial (veja-se “Três toques”); tal unidade plural (o oximoro vem bem a calhar) é característica da poesia secchiniana – poesia que atravessa “escolas” e dilacera categorias.
Diga-se de passagem que é justamente neste ponto que suposta oposição se resolve: o Antonio Carlos poeta e o ensaísta Secchin, na verdade, caminham juntos e na mesma direção – o poeta alimentando-se dos múltiplos caminhos que a poesia percorreu ao longo de sua história, tão bem conhecidos pelo ensaísta; e este, por sua vez, levando para seus textos a precisão e a elegância da palavra poética. Audaz flâneur, é assim que Antonio Carlos Secchin caminha pelas avenidas da poesia: recolhendo o que lhe interessa e perfazendo o que lhe apetece.
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