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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A Zulene (Ailton Maciel)



Tu tens o talhe da açucena agreste
e o perfume sem par da rosicler,
tua alma é seda que o viver reveste
de amor, carinho, no doce viver.

Tu tens nos olhos o riso celeste
Das estrelas no céu sempre a correr;
Os teus adornos são candente veste
De sonhos lindos a resplandecer!

Teus belos sonhos são doces desejos
que te acompanham pela vida além,
dos céus em doces e festos adejos!

Tua beleza é criação divina.
Teus dons são aves que de longe vêm,
De Deus p’ra ti por onde o sol se inclina!

Fortaleza, 4/9/61
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AILTON MACIEL deixou alguns inéditos. Ailton Alves Maciel (nome completo) nasceu em Baturité, Ceará, em 7 de março de 1943. Em vida nada publicou, embora tenha escrito inúmeros poemas, romances e contos. Sua obra mais importante desapareceu. Talvez no incêndio doméstico que quase o matou, em Brasília, onde foi viver (e morrer) no início dos anos 1970. Sua morte clínica se deu no dia 22 de outubro de 1974. Apenas quatro contos se salvaram: "Santa Caçada", "O Touro", "O Careca" e "O Presente da Professora", publicado na revista Literatura n.º 24, de 2003. Outros onze fragmentos encontrados podem ser de contos e romances.
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segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Rita no Pomar (Cláudia Fonseca)



Solitária, amargurada, misteriosa. O romance Rita no Pomar, à primeira vista, é apenas o desabafo do que poderia ser uma simples mulher, como tantas outras, com seu cachorro Pet, único a quem ela tem coragem de contar seus segredos mais obscuros. Quem tem a oportunidade de ler esse breve romance pode achar, no início, que só se trata de um texto coloquial divido em capítulos simples, observados a partir das embaralhadas anotações de Rita em seu diário, ou das revelações feitas ao seu companheiro e confidente. Frases longas dão ao leitor a sensação de confusão, o que, acredito, tenha sido o intuito do autor Rinaldo de Fernandes, ao criar uma personagem que foge da grande São Paulo para viver em algum lugar perdido no litoral paraibano. Durante os momentos em que Rita interage com Pet, o que percebemos é um texto que reflete de forma simples e precisa uma conversa do dia-a-dia. Para criar um ambiente mais próximo e verdadeiro do que acontece no exato momento da leitura, as narrações de suas vivências são intercaladas com observações feitas ao seu cachorro. Tudo, na mesma frase. Ao embarcar nessa viagem, temos a oportunidade de entrar no universo de uma mulher que, a cada página, revela não só o seu passado, mas a sua ambígua personalidade. Os acontecimentos, contados a Pet fora da ordem cronológica, dão a sensação de ir e vir da estória. Os recortes de sua realidade são desvendados aos poucos, deixando lacunas em alguns acontecimentos. Mas, ainda assim, acabam se encaixando, como se cada trecho de seu relato estivesse esperando sua continuidade mais à frente. A variação é entre o morno e envolvente, mas a grande sacada está nas últimas linhas do livro. Rita abre seu coração e vai se mostrando ao longo desse enredo. Porém, apenas no final é possível descobrir (quem sabe?) quem realmente é essa surpreendente jornalista, que larga a vida em uma metrópole para viver em um abandonado terreno com pomar, na beira de uma distante praia, trabalhando como atendente de um simples restaurante de estrada.

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Claúdia Fonseca é jornalista carioca. Rita no Pomar é uma publicação da Ed. 7 Letras (RJ): http://www.7letras.com.br/
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