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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Soneto para Thiago de Mello (Jorge Tufic)


(Thiago de Mello)


Nossa época, Thiago, está no sempre.
Aumentam bocas, mas o verde cresta;
na quietude do azul faltam bandeiras
da paz que alegre a estrela da manhã.
Nosso tempo, Thiago, amplia os braços
que se estendem nas linhas do papel;
quer seja o tempo de empinar saudades,
quer seja o tempo armado da poesia.
Nossas vozes, Thiago, entram no espaço
das torres de babel como se fossem
peixes de águas secretas, duradouras.
Nosso estatuto, Thiago, são domingos
que iluminam teus versos, plantam minas
para explodir com todas as rotinas.
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domingo, 19 de outubro de 2008

Cidade (Emanuel Medeiros Vieira)

(Em memória do amigo Pingo, que nos deixou nesse outubro)



“A verdade é feia. Temos a arte a fim de que a verdade não nos mate.”
(Friedrich Nietzsche.)


Avisto a cidade – o dia surgido,
planalto seco.


Já não consigo contemplar a vida,
soberano exílio,
em busca de outro mar,
da penúltima gaivota,
da ilha do coração ausente.


Sim, avisto a cidade,
céu sem mediação (parece um teto),
azul pleno,
sol de outubro,
à espera do cheiro de terra molhada depois da seca
(mangueiras em flor),
sempre esperando, sempre.


Avisto a cidade,
os primeiros ruídos,
o cerrado e uma flor retorcida,
um cheiro de morte,
sim, aquele cheiro.


A morte ganha sempre.
(Tem mais tempo.)


Então: uma noite sucedendo-se à outra noite:
sempre.

(Brasília, outubro de 2008)
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