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domingo, 3 de maio de 2009

A parceria (Belvedere Bruno)

















De todos os lados, as opiniões convergiam: - "É o casal perfeito. Cúmplice e amoroso!", diziam. Por décadas, mantiveram-se em aparente estado de felicidade e realização.
Ela imaginava-se de cabelos brancos e bengala, ao lado daquele homem maravilhoso. Não tinha dúvida de que a relação seria a mesma, na alegria e na dor, até que a morte, a ceifadora, desfizesse aquela parceria. Temia tal momento e rogava aos céus para que ele fosse o primeiro a ser escolhido, pois tinha consciência da falta de estrutura emocional dele para absorver-lhe a partida. Ela, ao contrário, estaria preparada, devido aos anos de psicoterapia, sua religiosidade, seus amigos. Ele sempre fora um cético. Tinha pouquíssimos afetos, abominava religião e dizia não ser louco para entregar sua cabeça a psicoterapeutas. Ali residia o mérito daquela relação. Eram diferentes, mas se adaptaram para que vivessem pacificamente.
Eis que um dia, em plena avenida, ela tem um infarto agudo, e morre, sem ao menos ter tempo de ser socorrida. Ele manteve-se calmo e assim ficou até que o corpo fosse sepultado.
O padre, os amigos e vizinhos comentaram a força dele no momento, mas, depois de um mês, como ele continuasse aparentemente imune à dor da partida, pensaram na possibilidade de um "estado de choque", e chamaram um profissional para vê-lo, conversar com ele e saber o que realmente sentia.
- Livre das amarras! Por vinte e cinco anos, convivi com tudo o que não gostava: terços, bíblias, terapeutas, livros de Freud, Jung, teorias aos montes, que me enchiam a paciência, sempre tentando explicar o inexplicável. Tudo o que eu desejava era aproveitar a vida, longe dos amigos medíocres que ela trazia aqui pra casa. O que posso sentir agora, a não ser uma sensação de leveza e felicidade?-
E tirou a cor azul da fachada da casa, colocando um tom terra; pintou de vermelho o quarto que fora do casal, para que a cor quente reacendesse as paixões. Aquele tom gelo, segundo ele, sempre fora um banho de água fria na vida sexual deles.
Da antiga decoração da casa, nada restara. Não tinha afinidade com nenhum dos objetos, mobiliário, biblioteca. Sobre a nova mesinha de cabeceira, o Kama-Sutra.
Todas as manhãs, cantarolando, regava seu canteiro, antes ocupado por plantinhas de temperos que ela utilizava nas refeições do dia-a-dia. Ali, agora, havia as mais lindas flores, com diversos matizes, parecendo acompanhar o estado de alma daquele homem que, a partir de sua liberdade, se tornara cada dia mais feliz...
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sexta-feira, 1 de maio de 2009

Rosas vermelhas (Valéria Nogueira Eik)
















A rosa vermelha e o sorriso cativante foram entregues ao final do dia.
Amélia, olhos baixos, fez um muxoxo de menina e tentou alongar a mágoa.
Encarou o riso inocente e esqueceu as palavras rudes da noite anterior.
A rosa era tão linda!

Duas rosas vermelhas foram entregues no início da noite por um sorriso suplicante.
Amélia exibia um pequeno corte na boca. Derramou soluços incontidos e mais algumas lágrimas.
Olhou as rosas. Sorriu tristemente. Desculpou a ressaca matinal.

Três rosas vermelhas foram entregues, quando duas ou três estrelas salpicavam o pedaço de céu que se condensava diante da janela.
Amélia, deitada na cama, invadida por todas as dores, relutava em perdoar.
O sorriso dele, quase paternal, delineava motivos e a absolvição das culpas.

Quatro rosas vermelhas foram entregues quando a madrugada cobria a cidade.
Amélia, amontoada no chão, ainda recolhia os cacos do próprio corpo.
O riso infantil implorava por perdão e afagos.

Cinco rosas vermelhas foram entregues, quatro ou cinco dias depois, por um par de olhos desesperados.
Amélia, de malas prontas, queria ir, queria ficar.
As marcas arroxeadas e a pele costurada começavam a ganhar tons suaves.
E suaves ficaram as dúvidas.

Seis rosas vermelhas foram entregues por um sorriso impessoal.
Amélia, agasalhada por outras tantas flores e pelo brilho das velas, não pôde ver nem perdoar.
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