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quinta-feira, 14 de maio de 2009

Cinzas (Ailton Maciel)



Que é feito do viver daqueles tempos?
Onde estão da casinha os habitantes?
A primavera, que arrebata as asas...
Levou-lhes os passarinhos e os amantes!...
Castro Alves


Aparece, ó visão de minha vida!
Vem decantar comigo o amor luzente...
Não vês, menina, a chaga dolorida
Que fervilha em meu peito penitente?...

O vem, ó vem, eu, louco, desespero!
Vem sentir desta vida os seus sabores...
Vem, açucena, eu todo dia espero
Os momentos ditosos dos amores!

Não te lembras, então, dos belos dias,
Que passamos felizes, lado a lado,
Só sentindo prazeres e alegrias
Sob o tempo, feliz, enluarado?!

Ainda recordo a nossa feliz vida:
Eu beijava a sorrir os teus cabelos.
Hoje o meu ser é chaga dolorida,
Hoje os sonhos são frios pesadelos!

Quão ditosos nos foram os momentos
Quando em tempo atrás juntos passamos...
Hoje restam visões e mil tormentos
Dos tempos auros em que nos amamos!

Hoje só restam cinzas... devaneios...
Recordações fatais pras nossas vidas:
Tu tens o corpo de carícias cheio,
E eu de chagas e fatais feridas!

Fortaleza, 7/10/64.
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domingo, 10 de maio de 2009

Petrarca em Minas Gerais (Adelto Gonçalves)



I
O petrarquismo como fenômeno literário sempre esteve atrelado à existência de uma corte. Sua importação pela América portuguesa, no século XVIII, foi uma contradição à própria origem e razão da existência do fenômeno, pois nunca houve corte no Brasil até o começo de 1808, quando desembarcou no Rio de Janeiro a família real, em fuga das tropas napoleônicas que invadiram Portugal em novembro de 1807.