Assim que o tempo clarear,
entrarei nas águas das lembranças.
Visitarei os remansos da mente,
desenterrarei incautos fantasmas,
e porei tudo sobre a mesa da sala.
Depois de um café fresquinho,
um catar de reminiscências fundas:
bisonhos pecados infantis;
namoradas, musas impossíveis,
endeusadas e inatingíveis.
Com os anos, tão sensaboronas.
Isso sem me esquecer:
dos remansos do Acaraú,
do pavor dos becos escuros,
dos quebrantos das ciganas,
e do mau-olhado dos invejosos.
— Cruz-credo! Cruz-credo!...
Assim que tudo clarear.
No entanto, caso permaneça o mau tempo,
fundearei nas correntezas do esquecimento,
e o passado submergirá, por enquanto,
dentro de mim. Bem junto a mim.
Macaé-RJ, 11/06/2009
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