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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Carnaval ou futebol? (Francisco Miguel de Moura*)




Meu ópio é a literatura. Mas, falemos agora de outros. No sábado passado não saiu meu artigo, neste jornal**. Atribuo a que a pauta estivesse cheia de comentários sobre o Carnaval e a minha crônica referia outro assunto. Não importa que este meu escrito venha a ser publicado depois da festa mais popular do Brasil – quando se estabelece um novo Reinado, o do Rei Momo. E todo mundo cai na folia. Afinal de contas, ninguém é de ferro para trabalhar o ano inteiro e não ter nem isto: 3 dias de Carnaval.

Sou mais cronista que articulista, e não apenas para elogiar ou criticar. Tenho vários tipos de leitores. Observando bem, digo que o ano do Brasil só começa depois da Semana Santa. Por quê? Ora... Janeiro é o rescaldo do Natal, e ainda estamos na Festa da Confraternização Universal (Festa de Ano Novo). Depois vêm as Festas de Reis com suas lapinhas e reisados onde ainda existem e noutros lugares com o bumba-meu-boi, tudo confirmando a religiosidade do povo brasileiro. Fevereiro já é o mês do Carnaval. E ai de quem dele não gostar! Vai mofar sentado num sofá, vendo-o pela televisão (pois não há outros programas) ou sai para ver os blocos que passam na rua, os carros de som que estouram nossos ouvidos e outras coisas do tipo. Sem tevê, temos o rádio, quase igual à tevê. Há lugares, hoje, onde o Carnaval continua quase o ano inteiro com nomes derivados do estado ou da cidade. E a música popular faz sua festa, claro. Pois Carnaval sem música não existe. Março! Bem, aí chega a Semana Santa, lá vem o sentimento religioso tomar conta de todas as ações do povo e do não-povo.

Depois disto, tome futebol o ano inteiro. Tem gente que torce por uma porrada de times: um em São Paulo, outro no Rio, mais outro do seu estado, e até do seu município onde nasceu ou mora. Já existem animados campeonatos municipais. Mas, como a maioria dos intelectuais, eu não gosto de futebol, e não vou dizer que gosto somente para agradar essa maioria que não lê, não escreve, não sabe o que é arte, nem mesmo no futebol. Quando o futebol é arte todo artista ou amante da boa arte gosta. Aos jogos decisivos de grandes campeonatos, muitos assistem: Copa do Mundo e Campeonato Brasileiro, etc. Mas assistir a toda partidazinha de pé-de-poeira de todo interiorzinho já chega a ser tolice.

E a gente tem que gostar de Carnaval ou de Futebol?

Não sei, acho que não. Que me lembre, quando era jovem, na cidade de Picos, brinquei, no Clube, uns três carnavais: No primeiro, peguei um fora de uma mocinha, irmã de minha colega. Esta colega bem que queria namorar comigo, mas eu teimava. Só queria a irmã mais nova. No segundo, tinha namorada. No último, já era casado recente. Se brinquei outros Carnavais “seriamente” não me lembro. Sei que naqueles tempos a gente ainda usava o tal “lança-perfume”, droga ainda não proibida. Assim, não posso dizer que gosto de Carnaval. Mas, num passado já bem distante, me perguntaram:

– De que você mais gosta, de Futebol ou Carnaval?

E eu, pensando acertadamente, respondi:

– Muito fácil! Carnaval só são três dias e Futebol é o ano inteiro.

Claro que ainda optaria pelo Carnaval. Mas, já começo a viver noutro mundo. Já existem carnavais quase o ano inteiro, no Brasil! Arre! Assim já não é divertimento, é trabalho.

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*Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras (APL) e da Associação Internacional de Escritores (IWA-sigla em inglês), Toledo, OH, Estados Unidos.
** Refere-se o cronista ao jornal em que costuma publicar crônicas.

E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br

WEB: http://cirandinhapiaui.blogspot.com

http://abodegadocamelo.blogspot.com

http://franciscomigueldemoura.blogspot.com
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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Paixão (Poema de Pedro Du Bois)



Apaixonei-me pela luz e a persegui

em beira mares, tive com a areia

atritos indesejáveis: a luz

e os pés molhados; perdi

a batalha, meu refúgio é o escuro

vão da escada, onde guardo

tralhas desconsideradas: rabisco

a poeira com palavras versejadas:

poderia anotar os dias.
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