Translate

quinta-feira, 18 de março de 2010

Soneto (Ailton Maciel)




A Altamir Xavier



Palerma, sem escrúpulos, pedante,

trêfego, com trejeitos pueris;

metido a gente sábia e importante,

com acervo demais em seus quadris!



Doente de acoria, intolerante,

ao olhar-se no espelho tão feliz

parece até uma miss debutante

com traços de fútil meretriz.



Fala demais. Rebola sem cessar,

canta fino, e aos domingos vai orar

na capela. É doente de acrania



e de acédia. Há dez anos que estuda

mas da série primeira nunca muda.

É cheio de desgosto e hipocrisia!

Fortaleza, 9/2/65

(AILTON MACIEL deixou alguns inéditos. Ailton Alves Maciel (nome completo) nasceu em Baturité, Ceará, em 7 de março de 1943. Em vida nada publicou, embora tenha escrito inúmeros poemas, romances e contos. Sua obra mais importante desapareceu. Talvez no incêndio doméstico que quase o matou, em Brasília, onde foi viver (e morrer) no início dos anos 1970. Sua morte clínica se deu no dia 22 de outubro de 1974. Apenas quatro contos se salvaram: "Santa Caçada", "O Touro", "O Careca" e "O Presente da Professora", publicado na revista Literatura n.º 24, de 2003. Outros onze fragmentos encontrados podem ser de contos e romances).
/////






























sexta-feira, 12 de março de 2010

Revolto (Inocêncio de Melo Filho)


Os homens amam e comem o pão
Que Deus ou o Diabo amassou.
Os homens vivem e morrem
Em cima da terra
Debaixo do céu
Os homens contemplam o infinito
Erguem as mãos
O tempo ágil e impaciente curva-os
Fazendo-os dormir no ventre da terra
O céu límpido e passivo
Fica a olhar sombras e jazigos.
/////