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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Porta (aberta para a poesia) (Tânia Du Bois)

Ao convidar para olhar pela porta, onde a luz escapa, procuro levar o leitor a invadir, encenar, sentir e saborear palavras que representam um palco de detalhes com criatividade, realçando o lirismo e a força da poesia. Abro a porta para espiarmos;

Pedro Du Bois: “Entre portas a entrada é suave /
se o destino sabe do encontro...”;

Lêdo Ivo: “Paredes têm olhos / Portas têm ouvidos.”
“E a vida vai se abrindo / em portas e janelas /
como se fora flor...”
“Onde está a outra porta? // A porta que busquei /
... é esta: aberta para a vida...”

Orides Fontela: “A porta está aberta. // ... Para além do que é humano
o ser se integra / e a porta fica aberta. Inutilmente”.

Mário Chamie: “... nem se espanta / quando abro essa janela ...
e nos renova / se uma porta atrás da outra
se desdobra...”

Nei Duclós: “Eu só preciso de uma coisa: / contar toda a verdade /
e esperar pela resposta // repetir o verso em cada porta”.

Observo que os poemas latejam metáforas da palavra inspiração e que, ao abrir a porta, podemos ver o nascer e a vida obstinada com os poetas.

A porta compõe a nossa vida, resguardando o direito de ir e vir, e deve estar harmonizada, porque nela reside a analogia com a linguagem e com a arte. Escritores, poetas, são responsáveis por essa sinfonia, eles têm ritmo próprio, personalidade exclusiva, como o design de cada porta. Por exemplo, a porta da frente traz a vibração e a alegria do poema, a porta do coração representa uma abertura para os sentimentos e a porta dos fundos reflete o espírito irreverente da criação.

A porta dá passagem para quebrar as regras, reinventar o vocabulário e permitir que autores diversos a apontem como se fosse uma grande estrela. A sensação está em abrir a porta e se deparar com a poesia.

Como Du Bois escreveu, “o poeta pensa que os deuses / não o abandonarão na hora / em que as palavras faltarem...”. E digo, viva a poesia! Sem ela não teríamos a liberdade para atravessar a porta e ouvir Paulinho da Viola, “... Eu até achava inspiração / Quantas vezes eu cantava / Quando não podia nem falar / É que meu violão me ajudava / A trazer esperança / Dentro de um poema”.
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quinta-feira, 1 de julho de 2010

Os rios e as montanhas (Nilto Maciel)

(Quadro de Chico Lopes)


O mundo todo está na África do Sul. Ninguém quer saber de Mandela ou dos pobres de lá. Iguais aos pobres da Namíbia, do Brasil e do resto da Terra. Todos só querem saber de futebol. A Copa do Mundo de Futebol. Um mundo de muito dinheiro. Uns poucos humanos pensam também em literatura. Cito quatro deles: Ronaldo Monte, Enéas Athanázio, Nelson de Oliveira e Audifax Rios. Pois estes quatro cavaleiros, em plena euforia futebolística, não me mandaram bolas, figurinhas, álbuns, notícias relacionados ao esporte. Mandaram jornais e revistas literários. Ronaldo mora em João Pessoa, Paraíba, e me deu de presente exemplar do número 4 da revista Ponto,; Enéas vive em Balneário Camboriú, Santa Catarina, e foi mais generoso: enviou o Jornal do Enéas, número 27, e O Nheçuano; Nelson de Oliveira transita por São Paulo, a megalópole brasileira, e me remeteu o número zero de Lettera Libris: Literatura & Afins; Audifax, meu concidadão (escondo-me no Parque Araxá da Fortaleza de Nossa Senhora da Assumpção), mandou-me o número 55 da revista Canto da Iracema.