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terça-feira, 27 de julho de 2010

Borges (Emanuel Medeiros Vieira)

É vasta a nossa população de mortos.

O mundo, Borges,

infinita biblioteca, além – é claro – de tigres,

espelhos, labirintos, punhais, livros, proféticos

sonhos, Homero, Camões, outros cegos – você,

a sombra enaltecida não é sombra,

claridade de alguns labirintos,

portas, enigmas decifrados,

alta capacidade mnemônica.


Somos poucos, somos tão poucos,

e parecemos muitos.

“Alguém constrói Deus na penumbra”, escreves sobre Spinoza.

Amor?

É o Espírito Santo que nos escreve?

A literatura como sedução/invenção: a vida só não basta.


Irmão: fazedor de enigmas,

decifrador de espelhos,

contemplador de tigres,

este punhal que manejo agora: a construção do poema.

Nada podemos contra a solidão?

Shakespeare, Cervantes, Stevenson, “As Mil e Uma

Noites”, a Bíblia, e toda as obras desta estirpe de

mortos, mas que não inventam o silêncio: estão aqui nos livros lemos.


Somos poucos, mestre, somos tão poucos, mas não sozinhos,

parecemos muitos.

Estás junto aqui, agora, comigo,

neste maio,

luminosa manhã planaltina

(poderia ser uma rua perdida de Buenos Aires, ou da

Bahia, onde começamos).


Sim, é vasta a nossa população de mortos,

Só queria pressentir tua alma,

descobrir meus inquietos córregos, pântanos.


Iluminas o breu, mágico cego,

singrando por outros mares,

sem portulanos, astrolábios,

também breve a vida,

vejo intrusos, lugares remotos, mapas de

fronteira, duelos, a morte na poeira,

ruínas e renascimento, sombras dentro de sombras: este sol interior.


O mais pródigo amor te foi outorgado

(como te referiste a Baruch Spinoza):

o amor que não espera ser amado.



Este poema obteve o 1° Lugar no Concurso Literário “Prosa & Verso”, certame de âmbito Nacional promovido pela Universidade e pela Prefeitura de Caxias do Sul, RS. O mesmo texto – concorrendo com 751 trabalhos – foi classificado entre os 10 primeiros no Festival de Poesia promovido pela Funarte, Brasília.
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terça-feira, 20 de julho de 2010

Flores & frutos (Pedro Du Bois)



Compre na passagem

um ramalhete simples

e enfeite

a sala de visitas



tenha a visão

do jardim de ontem



aspire o perfume

como sonho encontrado

de situações futuras



refaça as flores no vaso

retire as hastes

diminua o tamanho

equilibre a disposição

entenda a beleza

decorrente da combinação



a sala resplandece nas cores

silvestres das flores

e o jardim se faz breve

na efemeridade

da vida e morte.

(Pedro Du Bois, em FLORES & FRUTOS)
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