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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Poemas de Inocêncio de Melo Filho

(Mosteiro dos Jesuítas, Baturité, Ceará)

Vitória

Os sinos dobraram
Não os escutei
O sono venceu o cansaço
E a minha ida ao templo.
(09/05/10)


Ao que ficou

Para Danyhele

Nossas faces frente a frente
Bocas na mira
O beijo não veio
Nem foi
Ficou o desejo desenhado
Nos meus lábios.
(04/05/10)

Lição do tempo

Eu sou poeta
Funcionário público e pai de família.
Já fui o herói dos meus pimpolhos
mas o enredo se transfigurou.
A nova trama me assusta
Perdi o domínio do texto
e minha voz se perdeu no barulho.
O tempo me diz que é assim mesmo.
Subsistir é o princípio
para que se alcance o final da história.
(12/06/10)

http://www.transitoriodiamante.blogspot.com/
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terça-feira, 27 de julho de 2010

Borges (Emanuel Medeiros Vieira)

É vasta a nossa população de mortos.

O mundo, Borges,

infinita biblioteca, além – é claro – de tigres,

espelhos, labirintos, punhais, livros, proféticos

sonhos, Homero, Camões, outros cegos – você,

a sombra enaltecida não é sombra,

claridade de alguns labirintos,

portas, enigmas decifrados,

alta capacidade mnemônica.


Somos poucos, somos tão poucos,

e parecemos muitos.

“Alguém constrói Deus na penumbra”, escreves sobre Spinoza.

Amor?

É o Espírito Santo que nos escreve?

A literatura como sedução/invenção: a vida só não basta.


Irmão: fazedor de enigmas,

decifrador de espelhos,

contemplador de tigres,

este punhal que manejo agora: a construção do poema.

Nada podemos contra a solidão?

Shakespeare, Cervantes, Stevenson, “As Mil e Uma

Noites”, a Bíblia, e toda as obras desta estirpe de

mortos, mas que não inventam o silêncio: estão aqui nos livros lemos.


Somos poucos, mestre, somos tão poucos, mas não sozinhos,

parecemos muitos.

Estás junto aqui, agora, comigo,

neste maio,

luminosa manhã planaltina

(poderia ser uma rua perdida de Buenos Aires, ou da

Bahia, onde começamos).


Sim, é vasta a nossa população de mortos,

Só queria pressentir tua alma,

descobrir meus inquietos córregos, pântanos.


Iluminas o breu, mágico cego,

singrando por outros mares,

sem portulanos, astrolábios,

também breve a vida,

vejo intrusos, lugares remotos, mapas de

fronteira, duelos, a morte na poeira,

ruínas e renascimento, sombras dentro de sombras: este sol interior.


O mais pródigo amor te foi outorgado

(como te referiste a Baruch Spinoza):

o amor que não espera ser amado.



Este poema obteve o 1° Lugar no Concurso Literário “Prosa & Verso”, certame de âmbito Nacional promovido pela Universidade e pela Prefeitura de Caxias do Sul, RS. O mesmo texto – concorrendo com 751 trabalhos – foi classificado entre os 10 primeiros no Festival de Poesia promovido pela Funarte, Brasília.
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