Translate

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Terroir (Ronaldo Monte)

(Quadro de Chico Lopes)

Para Fátima e Waldir

Conversar fiado é uma arte. Sexta-feira de noite, então, é a mais necessária e imprescindível. Principalmente se você estiver na cozinha da casa dos amigos comendo pão com café, ambos feitos na hora. E se depois houver a possibilidade de rolar um vinho italiano, aí a conversa fiada se torna uma questão de sobrevivência.
Uma boa conversa fiada é aquela que se confunde com uma sessão coletiva de livre associação. Deixa-se a prosa à deriva, seguindo para onde bem quiser, ao sabor das mínimas circunstâncias e ressonâncias.
Sexta-feira passada, por exemplo, estávamos na tal cozinha, já no momento de passar do pão com café para o vinho italiano. Numa das prateleiras do armário havia um rótulo de manteiga, resto de uma viagem à França, anunciando que o produto era de Terroir. Não importa muito quem primeiro tocou no assunto, mas a minha posição era a de que a classificação de Terroir só era aplicável aos vinhos. O dono da casa, especialista em me contrariar nas minhas afirmações categóricas, falou qualquer coisa sobre a complexidade do termo, que ia muito além da simples demarcação geográfica de uma região agrícola. A dona da casa, por sua vez, que adora me ver derrotado em minhas opiniões, foi lá dentro e voltou com uma página impressa do Wikipedia que me dava um pouco de razão, mas puxava a brasa para a sardinha do marido. Minha mulher não disse nada, mas eu adivinhava o quanto estava saboreando a derrota iminente da minha posição.
Não me lembro bem do final da discussão. Aliás, a boa conversa fiada é aquela que não leva a conclusão nenhuma. É uma estratégia para se voltar ao assunto numa próxima reunião. O importante é que o tema seja instigante o suficiente para se passar do café ao vinho e deste ao licor ou coisa mais perigosa que nos entregue ao abandono do convívio despretensioso.
Independente de qualquer definição, havia uma compreensão comum sobre o significado da palavra terroir. O território, o rincão que nos tornava iguais em nossas diferenças era o lugar mesmo em que discutíamos. Aquela cozinha era o nosso terroir, assim como são todos os lugares em que os amigos se encontrem para jogar conversa fora e se querer bem.

Visite meus blogs:
blog-do-rona.blogspot.com.br
memoriadofogo.blogspot.com.br
/////

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Os trilhos cruzados de Silvério da Costa (Nilto Maciel)

(De boné, Silvério da Costa)


Conheço (nunca o vi) Silvério da Costa há muitos anos. Talvez desde 1989, ano de publicação de seu primeiro livro, Retalhos da existência. Escreve e publica sem parar. Mas sem pressa. Escreve poemas e artigos, resenhas, notas de leituras. Que publica em jornais. Envio-lhe meus livros; ele os lê e comenta. Com muita atenção e sabedoria.