(A Inveja - Sebastián de Covarrubias - Gravura do Séc. XVI)
Costumo levar em consideração as críticas construtivas. Todavia, tenho um leitor que não se cansa de me criticar deliberadamente. No seu último comentário, acerca da crônica Recortes, o distinto leitor reivindica a publicação de suas críticas a meu respeito. “Leio com frequência sua coluna e, vez por outra, faço comentários neste espaço. Ocorre que meus comentários quase sempre são críticas à colunista. Por que não publica críticas também?”
Não pretendia fazê-lo, mas para atender ao leitor inquiridor, eis aqui alguns recortes de suas mensagens críticas: “Você apenas escreve bem (conhece as regras), falta-lhe o tempero, leia-se talento”; “sou leitor assíduo de suas crônicas, sempre espero por alguma coisa surpreendente, mas sempre me deparo com o comum”; “você pode produzir, entanto lhe falta encontrar o ponto”; “medíocre”; “não complica, Simone, deixa a vida nos levar, bate um papo no bar do Bode”; “suas crônicas são tão insossas”; “DESISTO DE VOCÊ”.
Mas o fato é que ele nunca desiste de mim. Observo suas entrelinhas e contexto. Quanto mais criativa a crônica ou mais apreciada pelos meus outros leitores, mais incomodado ele se apresenta. Não sei exatamente quais as reais motivações desse leitor ressentido, mas desconfio que ele seja do ramo da escrita e por razões obscuras tenha interesse em desqualificar esta cronista.
De uma coisa estou certa, trata-se de um leitor constante e pontual. Tão logo a crônica é publicada, lá está ele a apreciar meu texto e, ato contínuo, depreciá-lo por meio de comentários sarcásticos no site do jornal. O fato de ele se dar ao trabalho de acompanhar de perto minha produção o credencia como um de meus mais dedicados leitores. Contudo, sem poder, ou melhor, sem querer revelar agrado, que por certo iria contra sua agenda secreta, ele tenta desdenhar.
Lembrei-me de Salieri, um compositor que nutria profunda inveja de Amadeus Mozart. Ao ler as partituras de Mozart, Salieri chorava de desgosto diante da magnitude da obra. E, ao invés de se aproximar e aprender com o ídolo, optou por urdir sua desgraça. Se Mozart soubesse da admiração doentia de Salieri, talvez sentisse um misto de misericórdia e vaidade.
Longe de qualquer comparação com a grandeza de Mozart, percebo que esse leitor aflito é meu Salieri. Sinceramente, lamento assistir ao seu sofrimento, mas não posso negar que também, de certa forma, me sinto envaidecida.
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