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sábado, 25 de setembro de 2010

Três minicontos de Leonardo Brasiliense

Em nome do show


Na parede da cela treze, a grande fotografia da famosa atriz da pornochanchada surpreende as novas detentas. As outras vão logo explicando que ali ninguém é fã, ela está é presa. Isto mesmo, fotografia presa, por assassinato. Esqueceu de se limpar e foi denunciada pelo sangue da vítima. Teve direito a se defender, julgamento justo, mas consentiu com o silêncio à reconstituição sugerida pelo promotor: o retrato, na sua áurea juventude, não suportou a flácida atualização da atriz que insistia em acompanhar o tempo, saiu da parede e deu um tiro na cabeça da velha. “Pecou por ignorância”, concluiu o promotor, “é compreensível o seu medo, porém, todos sabemos, fotografia não envelhece... no máximo pega mofo”.

A mãe do Silvinho

Ela disse que o meu amiguinho não estava em casa mas me mandou entrar. Disse que gostava de mim porque eu era comportadinho e que ela queria conversar comigo um pouquinho. Me levou para o quarto e disse vem, senta aqui no meu colinho...
Me deu um tapão na cabeça porque a chamei de tia.

Gente complicada devia ficar em casa

Dá um troco, tia. Você pensa que eu não sei que é pra tua mãe comprar cachaça? Não é pra ela não, é pra mim mesmo. Você não tem vergonha, pedir um troco pro leite e depois comprar cachaça? Mas eu não falei em leite, eu só disse dá um troco, tia. É pra você mesmo? É. E pra que é? Pra comprar leite. Toma.

(Outros minicontos de Leonardo Brasiliense em www.leonardobrasiliense.com.br)
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Três poemas de Pedro Du Bois

(Quadro de Chico Lopes)

ADEUSES


De todos os adeuses somos testemunhas
peregrinos de escuras vistas dos desencontros
entre as dunas e nas fechadas florestas petrificadas
dos sinais compreensíveis de abrir e fechar


vamos embora em cada tempo: têmpora cinzenta
o corpo dói a despedida na dor da ausência


nos reencontros na frustração avistamos
e reconhecemos não nos interessa o passo


o atraso bem vinda forma de desencantos
na urdidura de novas despedidas: somos
agora os que foram embora e ainda não é noite


nos adeuses voltamos sobre nossos passados
encobertas memórias: estreitas ruas
sem passagens e olhos postos sobre os idos
tempos. Acenamos sem voltar o rosto.




MEDOS

Trago o medo irrecorrível da infância
e o efêmero como no começo
dos escuros e dos barulhos não identificados
aos silêncios e claridades dos tempos tardios

trouxe na lembrança o início e a multiplicação
no crescimento das imagens irrefletidas
sobre realidade gongóricas da sobrevivência

retiro do medo sua essência: eu mesmo,
e o deixo derramado - esparramado -
nas instâncias cedidas uma a uma
como tormentos e sofrimentos cultivados

realizo medos atávicos adquiridos
e os escuros nichos demonstram o sacrifício
de conviver o claro o silêncio e a brandura
imaculada dos esquecimentos diários.

ÉPOCAS


Desdobrada vida: introduzida
época de conquista: medos
e persas em desabalada fuga
– o egípcio olha
com desdém e desgosto –
dos hinos e cânticos
escondidos em escuras roupas
e promessas não alcançadas:
ao credo fé e enlace
entre a história e os vencedores
das batalhas em corpos mutilados
e destroços céticos: em nada
acreditaram os deuses desde o exílio
houvesse a volta e o planeta
– mágica e mistério – tomasse
outro rumo alterasse o prumo e o eixo
endireitasse: o fogo e as trevas
em desdobramentos
de inépcias conhecidas.

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