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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ceará (Jéssica O. Dias)

(Nasci no dia 13 de março de 1996 em Fortaleza. Estou no 9° ano do ensino fundamental dois e estudo no Colégio Maria Ester 1)




Ceará terra da luz,


É uma “boniteza” que seduz.


O povo do sul nas férias nem demora,


Faz as “mala” e vem “simbora”.


Também numa terra dessas,


Cheia de José, Raquel, Patativa...


Um bando de cabra macho,


Com as suas “Maria Bonita”.


Quem é que não vem conhecer,


As histórias do Ceará.


Mais engraçadas que piada boa,


“Arrodeam” o mundo sem ninguém decepcionar.


Nossos livros regionalistas,


Fazem mais sucesso,


Que artigo bom de jornalista.


Quem é que nunca ouviu,


Um repente cearense?


Quem nunca dançou um forró,


Ou xote nesse sol quente?


Ô povo “arretado”,


Da literatura danada de boa.


Aqui, lixo se “rebola” no mato,


E as “conversa” voa.


Foi aqui que a abolição começou


E um sol mais igual brilhou.


Ô povo invocado,


Gente boa de memória.


Um povo simples e engraçado,


Mas pense, que o cearense faz história!
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sábado, 9 de outubro de 2010

Remoção (Mariel Reis)

(Quadro de Chico Lopes)



para reinaldo ramos

não. meu cachorro, não. se ele não vai, não me interessa. abrigo? o meu é aqui, na marquise. obrigado, agradece ao sr. prefeito por mim. não me incomoda viver na rua, não senhora. assistência social? isso eu deveria ter tido quando nasci e minha mãe me abandonou. por que vocês se lembraram de mim agora? ah, porque estou aqui na calçada da madame? ela tem um palacete e não pode me ceder um pedaço da calçada? a rua não da prefeitura? do governador? de quem é a rua? eu sou limpo, pode perguntar para qualquer um. não, senhora. droga eu não uso. bebo uma cachacinha de vez em quando. tô largando. uns bíblias conversaram comigo. é coisa do demônio a bebedeira. então é o demônio que me faz esquecer a minha desgraça, eu disse. eles ficaram um tanto sem jeito. me falam de jesus e não tocam mais no assunto de cachaça comigo. família? já tive. não deu certo. tem muita família que não dá certo, né? nem todo mundo é feliz como em propaganda de televisão. por que será? a senhora que tem estudo, pode me dizer? filho, não. tenho uma filha. uma moça. mora com a mãe. o que separou a gente? o desemprego. é, nem de porteiro. nada. trabalho? catei papelão na rua. dinheiro pouco. a menina necessitando de cuidados. a mãe azucrinava que eu tinha que fazer alguma coisa. eu fiz. tô aqui, né? a sociedade, dona. se falo com ela? não. que filha que ver o pai nessas condições? tem vergonha, não sabe? e o abrigo, aceita cachorro? se não aceita é perda de tempo que não embarco no ônibus. pego minha trouxa e rumo para outro lugar. que isso, senhora, o cachorro ir para um canil. é meu amigo. único amigo. um piadista falou que o cachorro é amigo do homem, porque não conhece dinheiro. mentira. cretinice. se ele não vai, pode me esquecer aqui. sou que cuido dele. é indefeso. como via se virar sem mim? tem gente que vai cuidar dele, mas não é a mesma coisa. a senhora sabe. o animal se afeiçoa a gente. e a gente ao bicho. ô, minha roupa, ele tá levando a minha trouxa de roupa. tá me assaltando. a senhora vai deixar o guarda levar as minhas coisas? a senhora iria se conformar se alguém invadisse a sua casa e levasse tudo embora, sem o seu consentimento? eu não preciso de endereço, dona. a sociedade não me quer. eu também não faço nenhuma questão. recuperação quem precisa é doente e criança que ficou em segunda prova. a madame só quer ter limpa a calçada dela. ela tem nojo de gente como eu. eu sou livre. e ela? por que eu não volto para os meus familiares? porque quero ser livre, dona. não me venha com conversa fiada. isso aí é meu colchão. se a senhora quisesse mesmo me ajudar, pediria aos brutamontes para largar os meus trecos. minha última chance? é isso, é? vou começar a gritar. podem bater em mim. eu não saio daqui sem o meu cachorro. maldade. vocês querem fazer sabão com ele. o bicho é tão sozinho quanto eu. vocês vão querer separar mais uma família?

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