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terça-feira, 26 de outubro de 2010

O alfabeto mesopotâmico de teus olhos (Nilto Maciel)



(Nicole Kidman)


(Oscar Wilde)

Ia-se a tarde trôpega pelas veredas de minhas retinas cansadas, quando me assustou o ronco metálico da campainha de minha casa. Esquecera-me do combinado no dia anterior: Ivan Monteiro queria me conhecer. E perguntara: Posso me acompanhar de uma amiga? Pode e deve. E me abraçaram a juventude dele e a beleza dela. Feitas as apresentações, pusemo-nos a falar desordenadamente. Ambos estudantes de Letras. Ouviram falar de mim num boteco do Benfica. Meu nome anda assim enxovalhado desde que me arrisquei a frequentar a noite de Fortaleza, ao lado de Pedro Salgueiro, Raymundo Netto, Felipe Barroso, Manuel Bulcão e outros habitantes das cavernas do etilismo (não confundam com elitismo) literário. (Ó, desculpem minha confusão mental: eu queria falar de sua adoração por Dioniso e por Bach e chamá-los de dionisíacos e bachianos).

Oferta (Inocêncio de Melo Filho)

                                      (Semnele, 2005, de Patricia Watwood)


Dou-lhe minha ereção

Dou-lhe minha nudez sem pudor

Dou-lhe meus movimentos mais precisos

Dou-lhe a maciez do meu corpo

Que será seu leito

Para que acordes com brilho nos olhos

Dou-lhe as fantasias que desejares

Dou-lhe a leveza do tempo

Não o perceberás passar

Dou-lhe o ar que dança entre nós

Dou-lhe entre os lábios os melhores versos

Da minha lavra

Dou-lhe em único cálice o vinho

Da melhor safra

Dou-lhe o que prometo

Para sejas cativa ao meu amor.
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