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domingo, 14 de novembro de 2010

Considerações sobre miniconto

(De uma carta de Wilson Gorj a Nilto Maciel)



Alcançar um bom nível literário é sempre difícil. No miniconto, principalmente. [...] A meu ver, os microcontos devem ter personagens sem nomes próprios (a menos que o nome contribua de alguma forma para o significado do texto). Um nome próprio tem um peso que o miniconto não suporta, pois traz consigo identidade e personalidade. Aos personagens dos minicontos, quase sempre, isso é dispensável, haja vista o seu parentesco com as fábulas e, destacadamente, as parábolas. Como nestas, os personagens ficam melhor quando genéricos (o soldado, a viúva, o corno, o filho pródigo) ou, ainda, quando são indefinidos. Ex.: “Achou uma caneta na rua”. Perceba que assim o leitor é absorvido imediatamente pela frase. Dá-lhe a impressão de que é ele quem achou a caneta; de certo modo é como se o leitor se sentisse o personagem da história. A identificação é imediata, instantânea. Diferentemente de quando o personagem é apresentado com um nome próprio. Cria-se certo distanciamento – distância que um romance ou mesmo um conto tratam de eliminar no desenrolar da história. O miniconto não dispõe do mesmo tempo. Por ser muito curto, nele o envolvimento precisa ser imediato, a entrega, instantânea. Tanto defendo este ponto de vista, que meus minicontos raramente possuem personagens com nomes próprios. É por isso que me considero um escritor de situações, não de personagens. Um minicontista está mais para Esopo e Gibran do que para Flaubert e Dostoievski. Se comparássemos os artistas da palavra com os da imagem, o romancista estaria para o cineasta; o contista, para o produtor de curtas, e o minicontista, para o fotógrafo. Nesta linha de raciocínio, os minicontos seriam flashes do cotidiano, enquadramentos ou registros de certas situações.

Outra ideia que me ocorre a respeito do miniconto é que talvez este seja dos gêneros o mais literário. Nisto se parece muito com a poesia. Por quê? Um bom miniconto só se realiza por meio de uma acertada disposição de palavras muito bem escolhidas. Não conseguimos contá-lo de outra forma, sob o risco de perder a sua essência (é aí que se difere da piada); portanto, não há como migrá-lo para outra linguagem, como a do cinema, por exemplo, que é bem viável aos romances. Os minicontos (nem todos, claro) nos encantam não só pelo que contam (ou menos por isso, até) mas muito mais pela forma como contam seus enredos e situações.
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Considerações sobre “Olhos azuis – Ao sul do efêmero”, de Emanuel Medeiros Vieira (Maura Soares*)


Como em tantos outros dias que amanhecem, acordei de madrugada, precisamente às 3.45h do dia 7 de março de 2010 e retomei a leitura de “Olhos Azuis – Ao sul do efêmero”, de Emanuel Medeiros Vieira, leitura interrompida às 23 horas do dia 6 para dar lugar ao sono que se avizinhava e que foi direto, sem escalas.

Acabou. “O último ato coroa a peça”, já disse alguém, recordo-me somente da frase agora.