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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Ronda (Silmar Bohrer)



Andei rondando a noite

assim ao léu, sem intentos,

só ouvi a voz dos ventos

ventanejando com açoite.


Barra do Saí
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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Os olhos da minha mãe (José Carlos Mendes Brandão*)

(Extraído de http://novapoesiabrasileira.blogspot.com/)


Nasce uma flor nos chifres da vaca,

Uma fonte de leite puro muge no pasto.

O orvalho da aurora me purifica.

Brotam da memória um bezerro e um touro

Voando sobre as árvores da infância.

Onde o cavalo do meu pai?

Onde o grito retumbando como o trovão?

Os centauros celestes fazem chover

Pétalas do delírio e borboletas azuis.

Um peixe curioso espia das locas na água verde

Do ribeirão correndo no fundo do pomar.

O eterno dorme ao meu lado como um cão.

Minha mãe chega à porta com pássaros nos ombros

E me mostra a face de Deus nos olhos.

*José Carlos Mendes Brandão nasceu em Dois Córregos, SP, em 28 de janeiro de 1947, e hoje vive em Bauru, SP. Publicou O Emparedado, Exílio, Presença da Morte, Memória da Terra, Poemas de Amor e O Silêncio de Deus. Ganhou os prêmios “Estadual de Literatura” (GB), “José Ermírio de Moraes”, do Pen Centre de São Paulo, para melhor livro de poesia do ano, V Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, Brasília de Literatura, Nacional de Literatura “Cidade de Belo Horizonte” (2000, por um romance inédito, e 2002, por um livro de poesia também inédito). Tive a indizível alegria de ser seu aluno, no distante ano de 1984, no Escolástica Rosa, em Santos. Para conhecer mais da obra de Brandão, visite http://poesiacronica.blogspot.com/