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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Nós & nó(s) (Tânia Du Bois)



“... o tempo não pode viver sem nós, para não parar.” (Mário Quintana)

Lendo alguns poemas, percebi que certos poetas gostam de desamarrar a linguagem. Desbravar caminhos sem medo de assumir a poesia.

“desfaz os nós/ desamarra/ solta/ na liberdade do corpo/ dança/ anda/ corre/
no livre pensar/ esconde as razões // refaz os nós/ amarra/ prende/
o corpo ao começo. “(Pedro Du Bois)

Na essência para transformar os nós, em nós, Helena Kolody no poema os “Nós”, revela que “Fomos duas árvores castas./ Não misturamos as raízes./ Apenas enlaçamos / os ramos/ e sonhamos juntos”.

O que leva o leitor a acreditar que mudanças são necessárias, desde o trabalho de criação até os principais feitos da vida: a esperança num universo de valores únicos, como se o tempo fosse transformado para nós e tudo que está em volta “De Nós”.

“pelo poço sem fundo / chegamos ao nada/ porque somos ecos/
(não imagem) / e o mergulho fatal / nos retorna à origem” (Pedro Bertolino)

Nesses poemas que são, sobretudo, um ressoar, os poetas colocam em xeque as indiferenças que registram no cotidiano.

“No meio da palavra/ o nó// o meio da palavra/ no pó// No coração o nó//
Na garganta/ o nó// Entre meu olhar / e teu olhar/ o nó/ na-valha... “(Lindolf Bell)

Pergunto se “Neste Embrulho de Nós” (livro de Marco Aqueiva), no ressoar os sonhos, os nossos filhos e netos ressoarão por nós. E Lindolf Bell responde que, “Existe em nós não o novo / mas o renascido. / Pesamos por isto as verdades / sobre a balança sem pêndulo”

Os poetas com seus talentos abrem caminhos para todos. Mário Benedetti, em “Quem de Nós”, revela uma história de amor, entre três amigos.

O amor, sempre o amor, desembrulha os nós, porque a relação amorosa leva à imperfeição e, por isso, respeitamos as diferentes maneiras de pensar. E como precisamos uns dos outros, compartilhar com os escritores no tempo em que cada um de nós instiga quem os lê, no descobrir as diversas facetas das atitudes de nós e dos nós, como passaporte para existências sem percalços.

Quem de nós, ama a verdade? Vive o amor eterno? Sonha com as palavras? Acredita em si? Os Nós estão feitos!

Alphonsus de Guimaraens Filho publicou seleção de poemas, reunindo três livros inéditos, que intitulou e, neles, encontramos. “Por que fizeste de mim um nó? / Por que ao só / adivinhá-lo, sem desfazê-lo, / todo estremeço? //... Dize se estou! / Dize se tudo / não é só / este crespo, irritante nó...”

Costumo dizer que o tempo é pouco, porque quando estou lendo poemas não tenho hora para acabar; viajo entre os autores e durante a leitura vejo flashes de nós e do(s) nó(s) pelas passarelas.
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domingo, 5 de dezembro de 2010

Plenitude – Não perfeição (Emanuel Medeiros Vieira)

Para Cida, irmã, amiga, comadre, infinitamente amiga

“Um dos motivos mais poderosos que conduzem o homem em direção à arte e à ciência é o de escapar do cotidiano” (Albert Einstein)




A quarta-feira,

o lado-sombra,

dentro de cada um,

pão, café,

o paraíso pode ser o outro,

não só o inferno?,

o mito é o nada que é tudo,

escreve Pessoa,

um arquétipo universalmente conhecido,

eu sei, é Jung, não Freud,

inconsciente coletivo,

mas de onde vem essa apreensão?,

esse temor metafísico contemplando o mar,

ah, brisa marinha

sempre aspirei a plenitude,

não a perfeição,

sou mortal,

agonia sem nome,

na manhã bela e repetida

a apreensão continua

vontade de chorar ouvindo Cartola e a voz de Elis,

pensando na coleção de amigos mortos,

Ela te contempla,

a Cachorra, a que te colocará de pés juntos,

novamente citações:

“Deve haver no mais pequeno poema de

Um poeta, qualquer coisa por onde se note que existiu Homero”

(Pessoa – novamente).


Voltarei sempre com as mãos vazias?

Mas estou pleno dessa finitude,

Já sem medo, reconciliado,

olhando as vidas tão “pequenas” e anônimas,

ônibus, salário pequeno, hospital cheio,

a luta de cada dia.


Resta-me a esperança de que um só leitor, um só

– se houver leitores –

daqui a mil anos, entenda o meu esforço

(acolher a linguagem no mundo quebrado).


(Salvador, novembro de 2010)
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