(Escritor Chico Lopes)
Caro Nilto:
Obrigado por me citar lá entre teus amigos no “Literatura sem Fronteiras”. E também, logo abaixo, tem um quadro meu, o do curiango em fim de tarde mineira, ilustrando um poema do Dubois. Fiquei contente que minhas imagens estejam andando por aí... Quanto à satisfação tua, entendo-a completamente. Mas "realização" é um conceito infeliz, visto que realizado é impossível ser, pois que, como ser humano, estamos sempre incompletos, por fazer, e Nietszche bem dizia que "atingir um ideal é superá-lo". Realização, grosso modo, é Paraíso, e Paraíso não existe e, toda vez que ele existiu, fomos expulsos dele, para não morrermos de tédio e improvisarmos nossa própria versão da humanidade, metade eufórica, metade agônica, sempre, desgraçada e apaixonadamente. Somos os que vão ao Inferno à procura de Luz mesmo, como dizia o sábio Lupiscínio. Agora, você é dos contistas mais saborosos deste país, digo e repito. Mistura dor e humor com muita graça e perícia.
Abraços
Chico Lopes
*Chico Lopes, escritor de Poços de Caldas cuja carreira nacional de contista vem crescendo dia após dia, experimenta agora um novo território – o internacional, saindo em Lisboa numa antologia de contos que reúne contistas brasileiros e portugueses. O livro chama-se SÓ AGORA VEJO CRESCER EM MIM AS MÃOS DO MEU PAI e sairá pela editora Pasárgada. O título traz um trecho de um poema do poeta Iacyr Anderson Freitas, de Juiz de Fora, a partir do qual o editor, Ozias Filho, propôs a escritores brasileiros e portugueses o desafio de escreverem um conto de cerca de cinco páginas. Chico Lopes aceitou com prazer o desafio, visto que uma constante de sua obra da contista e novelista é a relação de um filho pequeno ou adolescente com um pai problemático, ausente espiritual ou fisicamente. Isso já lhe rendeu contos como “A fresta” em “Nó de sombras” e “Belmiro agoniza” em “Dobras da noite“, entre outros.
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