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sábado, 22 de janeiro de 2011

A impressionante influência vocabular da literatura (W. J. Solha)




Tornou-se lugar-comum, na imprensa, reportar fatos como o acidente com o avião da TAM, que matou 162 passageiros, ou o deslizamento de terra no Morro do Bumba, em Niterói, como “tragédias anunciadas”, influência evidente do belo título de um livro que é o Crônica de uma Morte Anunciada, de Gabriel García Márquez. Claro que isso não é de hoje. Todo sujeito ciumento é um “Otelo”, desde que Shakespeare escreveu a peça a respeito do Mouro de Veneza. Todo homem excepcionalmente forte é um “Hércules”, acho que desde que os gregos, influenciados pela sua mitologia, e os romanos, pela tragédia Hércules sobre o Eta, de Sêneca, passaram a vê-lo como o modelo do Stalone ou Schwarzeneger de sua época. Do mesmo modo, toda viagem ou percurso repleto de percalços passou a ser “uma odisséia”, desde que Homero escreveu a história de Ulisses, cujo nome grego era Odisseu. Daí 2001 – Uma Odisséia no Espaço, o filme de Stanley Kubrik – daí Ulisses, o famoso romance de James Joyce, que consome cerca de 800 páginas pra contar o que foi um dia – 16 de junho de 1904 - na vida de um certo dublinense chamado Leopold Bloom. Se esse caminho é de mais sofrimento do que aventura, o rótulo é o de “via-sacra”, “via-crúcis” ou “calvário”, por conta do peso do texto evangélico, que transformou, também, todo traidor em “judas”, toda vítima em “cristo”, todo mau caráter em “judeu”, toda maldade humana em “judiação”, todo homem caridoso em “bom samaritano”, todo fim do mundo em “apocalipse”. Do mesmo modo, abrindo para o Velho Testamento, todo começo de qualquer coisa é “gênesis”, todo assassino é um “Caim”, assim como todo lugar maravilhoso é um “éden” ou “paraíso”, todo vidente é “profeta”, toda figura com liderança é “messiânica”, toda decisão sábia é “salomônica”, todo embate desproporcional, tipo camundongo Jerry contra o gato Tom, Oliveiros contra Ferrabrás, Vietnã versus Estados Unidos, é uma luta de “Davi e Golias”.

Acerca de Astrojildo Pereira (Dimas Macedo)



Se no Brasil, efetivamente, segundo o pensamento de Leandro Konder, houve uma derrota da dialética, pertinente à recepção das ideias de Marx, na primeira metade do século precedente, creio que essa assertiva não pode ser aplicada ao caso de Astrojildo Pereira.