Imagine como seria conviver com as atividades diárias, com os amigos e ainda ter tempo para se dedicar à leitura. Há quem desafie o tempo e a literatura e, além de desafiar, muitas vezes reduz, enfeita e conduz a sua utilização e a sua utilidade. Nas palavras de Jorge Tufic, “O tempo é a / corrosão / que parte do / nada e se / refaz do / nada”.
O tempo é fronteira entre o que lemos e o que ainda poderemos ler. Pergunto, quanto tempo teremos para ler tudo o que desejamos? Devemos buscar o equilíbrio ao montar a nossa agenda, pois nem sempre podemos prever o tempo necessário para as nossas leituras.
O tempo desafia e reflete a realidade: é preciso ler hoje, para melhorar amanhã. Prova disso são as inúmeras produções literárias realizadas com o intuito de desenvolver e envolver a história do tempo, de natureza filosófica, histórica, poética, científica e sociológica, onde só o amor e a cumplicidade pelas palavras podem operar.
A busca por um estilo de vida focado no tempo está no reencontro da obra com o escritor, onde o leitor já prevê a necessidade de mudar do superficial para o essencial, em uma redescoberta de prazeres.
Pedro Du Bois, em (DES)TEMPO, questiona: “Na verdade, nos preocupamos com o tempo: e o nosso tempo permanece intocado na (in)finitude do espaço, onde os escolhidos se lançam em eternidades”
Carmen Silvia Presotto, em DOBRAS DO TEMPO, desafia o tempo em lembranças: “Agitados abanos / lembram os laços da trança menina e / a expectativa da vida não preenchida. // ... Suspiro ao vento pelo primeiro dia.”
Lima Coelho, por sua vez, desafia o tempo entre o amor e lágrimas, em seu livro MARCAS DO TEMPO.
Jorge Luis Borges, em HISTÓRIAS DA ETERNIDADE, busca desafiar o tempo no sentido do rigor cronológico, “Entendi que sem tempo não há movimento (ocupação de diferentes lugares em diferentes momentos); não entendi que também não pode haver imobilidade (ocupação de um mesmo lugar em diferentes momentos)”.
Tais obras mostram a busca pelo passado, presente e futuro e, ainda, nos trazem o caminho do conhecimento de maneira simples e ao mesmo tempo profunda, pois vibrantes em uma mesma frequência.
O livro é atemporal e companheiro, pode ser interessante num determinado momento e ter outra função em outro, e ainda refletir sobre as questões do nosso tempo.
Desafiar o tempo é saber, de fato, para o que ele serve, é desejar que ele pare. Ou que ele possa andar, como em Saramago, “Não tenha pressa./ Mas não perca tempo.”; ou brincar como em Mário Quintana, “O tempo é apenas o ponto de vista do relógio.” Há o tempo do relógio, mas também seguimos o tempo que está dentro de nós, como o feito de sentimentos, que é o que verdadeiramente faz a nossa história, porque quando a imaginação trabalha, é insuperável...
O segredo de desafiar o tempo está na seriedade e eficiência da criação literária, tudo o que lemos faz parte da nossa formação, e o aproveitamento do tempo reside no encontro em que a sociedade se reconhece: equitativa, eficiente e culta; todos acreditando que a força está nos livros que desafiam o tempo.
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