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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Solidão nua (Tânia Du Bois)




“Este verso, / antes de luzir, / perde a graça.
Este poema / antes de me rir, / abre a bocarra.
E me espanta o juízo, / a fechar-me os lábios / deixando-me zonzo,/
a espiar o dia,/ a sonhar o nada.” Clauder Arcanjo




A solidão é considerada um referencial do homem moderno.
Na solidão nua encontro a reflexão “esquecida” como conhecimento para alcançar a proposta do ato de pensar – arte pelo jogo de luz e sombra.
A nudez da solidão tem a tendência de seguir pelo caminho onde o homem se sente preso na carga dramática e, ao mesmo tempo, sente-se livre da teia, das máscaras, num desejo de superar o espaço para sair das limitações da tela e do papel.

Ao ler uma obra de arte é preciso refletir, discutir sobre as impressões do “novo” e isso está em falta, porque o homem está sempre em busca do derradeiro sentido da vida. Por isso, vagamos sós e presos na solidão de nossas verdades; presos aos sentidos das nossas ações e discursos.

A solidão nua é atual e a sua característica é a angústia, isto é, ela se apropria do lugar escuro, numa espécie de revirar o lado claro das aparências. Como Jorge Luís Borges nos mostra em seu poema:

“Não restará na noite uma estrela. / Não restará a noite.
Morrerei, e comigo a soma / do intolerável universo.
Apagarei as pirâmides, as medalhas, / os continentes
e os rostos. / Apagarei a acumulação do passado.
Transformarei em pó a história, em pó o pó. / Estou
mirando o último poente. / Ouço o último pássaro.
Deixo o nada a ninguém”.

Sabemos que o mundo em que vivemos traz consigo o silêncio que nos enriquece, podendo nos levar à solidão nua onde os absurdos diários sobrevivem em valores que se eternizam em diferentes dias, como em "Domingo", "Quanto custam os dias em que não procuro nada //... silêncios significativos / e ressignificados em palavras vãs..." e em "Segunda-Feira", ambos de Pedro Du Bois, "Se estiver sozinho / o ouvido treina / ouvir a solidão / do destino / fechado no quarto / de apagada luz / em cerradas cortinas".
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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A técnica da enumeração em Carlos Trigueiro


W. J. Solha

Ao ler a série de contos de “Confissões de um Anjo da Guarda” (Bertrand Brasil, 2008), de Carlos Trigueiro, autor de outras obras marcantes, como o “Livro dos Desmandamentos”, “O Clube dos Feios” e o “Livro dos Ciúmes”, volto a me encantar com seu estilo denso, amargo, enxuto, sarcástico, e a me intrigar com o que acabei percebendo ser um de seus sestros de notável artífice da palavra: o uso recorrente da enumeração como forma de ampliação visual e conceitual dos relatos.