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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Rocío del tiempo (Carmen Silvia Presotto)



Si...


Si fuera posible hablar de todo,


no le diría al horizonte


al retorcido vacío


a las estrellas apagadas...




Escribiría al otoño


y no a mi llanto


ni a esta desesperanza.




¡No!


Si me fuese posible una palabra


sólo una


si ella sangrase


si granada me libertase


de la mano que perdí,


mi palabra como roca


como rosa


como piedra


viviría


volvería para mí.




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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O homem do terno de vidro (Marcia Barbieri*)


(Série Minutos Despues I, Lacy Duarte)


“O tempo, o tempo é versátil, o tempo faz diabruras, o tempo brincava comigo, o tempo se espreguiçava provocadoramente, era um tempo só de esperas, me guardando na casa velha por dias inteiros (...)
(Raduan Nassar - Lavoura Arcaica)”


Sentia o perfume indiscreto do concreto fresco da nossa casa. De fora, um cheiro forte de peixe me entupia as narinas. Era estranho, porque o mar estava tão longe dos nossos olhos faiscados de areia. Apenas um minúsculo aquário inabitado enfeitava meus pensamentos. A gordura mórbida da solidão. Morávamos numa ilha e jamais tivemos saudades ou necessidade do mar. O mundo ia e vinha, holístico, tão alheio a tudo... Indústrias fabricavam sonhos de novos amores e nós comíamos do pão mofado de cada dia. Vinte mil léguas submarinas. Não entendia as engrenagens engolindo monstros e crianças disformes, mas me dava por satisfeita por não ser devorada, faltavam somente alguns pedaços inúteis, que provavelmente não sentirei falta no futuro. Juntos, planejávamos viagens que nunca faríamos. Contabilizávamos filhos já perdidos nos labirintos ocos e fétidos do ventre. Não compreendia o motivo do nascimento se localizar tão a margem da lama. Bocas de lobo deságuam em mim. Encaramujo. Nas horas de monotonia crio larvas raras e até agora nenhuma se transformou em borboleta, serviram apenas para engolir nossos jardins, em seu tímido, porém grotesco gigantismo.