Translate

quarta-feira, 9 de março de 2011

Sangria nos meus olhos mortos (Marcia Barbieri)



“O homem é um deus em ruínas”
Ralph Waldo Emerson

Começo o árduo trabalho de ensacar os figos. Olho a árvore e vejo a mão desproporcional de Deus brotando e descansando sobre a terra arada.

É outono e as folhas se desmancham sobre o chão caiado. A mulher de vértebras em andrajos murmura entre as frestas pretas de seus dentes fatigados: Perante o amor todo ser se desnuda.

Fúcsia (W. J. Solha)



Vitória Lima lançou pelas Edições Linha D´Água, de João Pessoa, um delicado livro de poemas marcados por essa cor, fúcsia, que o Houaiss define como rosa forte, vivo e levemente purpúreo, próximo ao magenta. Ou, como a poeta nos mostra, bem mais próxima de nós, é aquela que pinta & borda as calçadas sob os nossos intensos jambeiros, em todo setembro. Como o João Batista de Brito fez com os poemas de Sérgio de Castro Pinto, poder-se-ia escrever uma tese sobre essa expressão “pinta & borda”, pela sua leveza e beleza plástica, pela sonoridade, pela feminilidade que evoca, e por seu outro sentindo, o de “faz e acontece”. A referência aparentemente ingênua ao mês em que isso se dá, permanece até que lemos os versos do “11 de setembro”, quando a autora nos diz que não falará do World Trade Center em 2001, mas do Palácio de La Moneda em 73, quando e onde se deu um fim ao socialismo não-violento, ao comunismo não-vermelho, acredito que fúcsia, de Salvador Allende.