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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Nosso abril despedaçado (Nilto Maciel)




A tragédia de Realengo abalou meio-mundo. Indignado, como a maioria das pessoas, escrevi um artigo: “Por trás de todo terrorista há sempre um homem de cajado em punho” (título que no Observatório da Imprensa reduziram para “Um homem de cajado em punho”). Ontem assisti, mais uma vez, ao filme Abril despedaçado. Obra-prima! O menino (nem nome tinha, sempre tratado como “menino” ou “Menino”, como se este fosse o seu nome) que lia sem saber ler: inventava histórias enquanto folheava um livro e via as figuras, as letras. Ao redor, a vida seca de sua família, das pessoas do sertão, do povoado, os amores puros e impuros, a tragédia de sua morte. Mas não quero falar desta peça (narrativa e imagens) singular, porque me lembra as crianças assassinadas todo dia no mundo por orientação esquizofrênica. Quero me referir a este abril que se espedaçou em nossas cabeças e me levou a ler mais do que nunca.

Eu disse, ela disse (Lohan Lage)

(Extraído do blog Autores S/A http://autoressa.blogspot.com)



Eu disse a ela que queria juntar nossas escovas de dente. Ela disse nada, e mostrou-me, mais radiante que a luz do amanhecer, todos os seus dentes. Ela disse ter medo da minha sinceridade. Eu disse ter medo de suas omissões. Eu disse que não queria dizer. Ela disse nada e permitiu que a beijasse. Eu disse para ela se afastar do joio daquele campo. Ela disse que o meu trigo era suspeito. Eu disse te amo. Ela disse não ter certeza. Eu disse que ela ficava linda de branco. Ela disse que preferia preto. Eu disse que nossa relação estava em ebulição. Ela disse para irmos com calma. Eu disse que era virgem. Ela disse não acreditar. Eu disse que a levaria para onde ela quisesse.