A tragédia de Realengo abalou meio-mundo. Indignado, como a maioria das pessoas, escrevi um artigo: “Por trás de todo terrorista há sempre um homem de cajado em punho” (título que no Observatório da Imprensa reduziram para “Um homem de cajado em punho”). Ontem assisti, mais uma vez, ao filme Abril despedaçado. Obra-prima! O menino (nem nome tinha, sempre tratado como “menino” ou “Menino”, como se este fosse o seu nome) que lia sem saber ler: inventava histórias enquanto folheava um livro e via as figuras, as letras. Ao redor, a vida seca de sua família, das pessoas do sertão, do povoado, os amores puros e impuros, a tragédia de sua morte. Mas não quero falar desta peça (narrativa e imagens) singular, porque me lembra as crianças assassinadas todo dia no mundo por orientação esquizofrênica. Quero me referir a este abril que se espedaçou em nossas cabeças e me levou a ler mais do que nunca.