Sem Título - Frans Krajcberg |
METAFÍSICA ENQUANTO A MORTE SE ATRASA
Os poetas estão dóceis.
Os mortos,
jazem, em placas, pelas esquinas,
dando nome aos chãos
do passar de cada dia;
os vivos,
amontoados entre a poeira e as traças,
mal respiram ― ainda.
Que destino:
travar-se com a língua,
(o que é dizer com um corpo,
latente coisa)
munir-se até os dentes com farpas;
lacerar a couraça em seus gumes,
espatifar a lira,
forjar outra matéria (ainda língua) depois de tudo,
e findar
dependurado ao alto
no triste afazer de nomear o onde
os homens
não se vêem, não se olham,
não se tocam
senão por trinta dinheiros!
_____________________________________________
*Dércio Braúna é historiador, poeta e contista, autor de O pensador do jardim dos ossos (Expressão Gráfica e Editora, 2005), A Selvagem Língua do Coração das Coisas (Realce, 2005), Metal sem Húmus (7 Letras, 2008), Uma Nação entre dois mundos: questões pós-coloniais moçambicanas na obra de Mia Couto (Scripta Editorial, 2008), Como um cão que sonha a noite só (7 Letras, 2010). Contato: derciobrauna@bol.com.br.