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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Poemas (Dércio Braúna*)

Sem Título - Frans Krajcberg




METAFÍSICA ENQUANTO A MORTE SE ATRASA



Os poetas estão dóceis.
Os mortos,
                   jazem, em placas, pelas esquinas,
                  dando nome aos chãos
                                       do passar de cada dia;
os vivos,
amontoados entre a poeira e as traças,
mal respiram ― ainda.

Que destino:
travar-se com a língua,
                (o que é dizer com um corpo,
                                          latente coisa)
munir-se até os dentes com farpas;
lacerar a couraça em seus gumes,
espatifar a lira,
forjar outra matéria (ainda língua) depois de tudo,
                  e findar
                  dependurado ao alto
                  no triste afazer de nomear o onde
                  os homens
                  não se vêem, não se olham,
                  não se tocam
                  senão por trinta dinheiros!


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*Dércio Braúna é historiador, poeta e contista, autor de O pensador do jardim dos ossos (Expressão Gráfica e Editora, 2005), A Selvagem Língua do Coração das Coisas (Realce, 2005), Metal sem Húmus (7 Letras, 2008), Uma Nação entre dois mundos: questões pós-coloniais moçambicanas na obra de Mia Couto (Scripta Editorial, 2008), Como um cão que sonha a noite só (7 Letras, 2010). Contato: derciobrauna@bol.com.br.

domingo, 8 de maio de 2011

Provável (Pedro Du Bois)



Probabilidade: amanhã acordaremos
na mesma hora. Diremos palavras.
Sorriremos faces. Espalharemos
as cobertas sob os corpos. Transitaremos
caminhos conhecidos. Reiteraremos
verbos conjugados. Diremos os bons
dias necessários ao convívio.

Diremos adeuses tantas vezes
forem as separações. Os reencontros
de abraços e beijos: a probabilidade
de irmos juntos para a cama ainda
desfeita da manhã.


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