deriva,
da cabeça de um nauta torpe
a fineza de um fogo torto.
como se já não bastasse o lema:
insensato coração de náufrago,
agora esse mundo devassado.
todas as distâncias se resumem
na mirada que percorre o espaço
onde copulam as galáxias.
sem ruído a verve refaz insônias
enquanto a história dorme.
o pavor é uma equação antiga
enterrada do outro lado da divisória linha
o amor é uma canção antiga
soterrada na estrada em brasas.
ser herói à margem
punk por um dia
ou qualquer coisa que resista à real-política.
o cosmos é uma abstração ilógica
para a qual o bom senso nunca atina.
qualquer cisma vem sempre antes da pessoa que anuncia
deslocando o foco tão incerto da retina.
todo dia é sempre outro
o espelho que novamente nos identifica.
suspensa entre o sal e o azeite
a memória vai parindo seus eclipses...
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[*Nuno Gonçalves é poeta e professor de História. Publicou o livro Cartas de Navegação em 2009 e é homônimo de um pintor português do Século XV].
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