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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Palavras cifradas (Tânia Du Bois)



As palavras restringem os nossos sentimentos e, por isso, muitas vezes usamos o chavão: “Não tenho palavras”. O sentimento vai além do que poderia ser descrito.

O poeta Oliveira e Silva pergunta: “Quem somos nós, senão a chuva e o vento, / Quando, por acaso, dialogamos, / sob um céu vago, às vezes pardacento, / Ao gemerem as árvores nos ramos?” Assim, ele indaga sobre o sentido da vida e nos mostra que ela é feita de palavras que podem ser inadequadas, opostas, reparadoras, carinhosas, famosas, educativas, deslocadas, coloridas, surpreendentes e cifradas.

A descoberta (Mariel Reis)


Clarice rodopiava. A vitrola enchia o ambiente de música alta. Os braços erguidos; o quadril em movimento e as pernas alvoroçadas – preenchidas de tumulto. O vestido branco, vincado pela sombra da tarde, acendia pontos de fogueira nos olhos. As chispas de uma alegria selvagem escapavam-se por certo sorriso. Retorciam-se as mãos no tecido transido. Entontecida pelo bailado ardente, tombou-se. O sexo aninhado à quina da mesa. Os olhos elevaram-se em transe. Procurou, em derredor, o que lhe havia tocado.
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