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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Endereço (Emanuel Medeiros Vieira)



Perdi (perdemos) o endereço de Deus.
Perdi (perdemos)?
Estará no bolso da calça, na segunda gaveta, no trapiche da Praia de Fora,
no Parque da Redenção, na Praça Castro Alves, na esquina da São João com
a Ipiranga?
Perdi o endereço de Deus.

Estará escondido na clandestinidade, dormindo em quartos com cheiro de mofo – Neocid
para as pulgas –, ou nos interrogatórios no DOPS?
Nas fugas apressadas?
Perdemos o endereço de Deus,
mas temos todos os aparelhos eletrônicos,
da China, do Paraguai, dos Estados Unidos.
E sempre quereremos mais, mais,
cerveja gelada anunciada pela loira gostosa, o carrão com a estrela da TV,
o último produto – ansiedade perpétua, e continuaremos ansiando:
e, quando chegar a noite, desmoronaremos.

Não te preocupes (Carlos Nóbrega)

(Toulouse Lautrec, Crouching Woman Red Hair, 1897)


ao ficares nua


o meu olhar te veste


com a veste mais linda


que já tiveste.

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