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quarta-feira, 22 de junho de 2011

O Alquimista Kafka* (Emanuel Medeiros Vieira)



Franz Kafka (1883-1924),
três quilos mais magro,
enigmático sorriso no canto da boca,
renasceu numa repartição do INSS,
misteriosa demanda. .
O velho Franz esperou em cadeiras mofadas,
“falta um documento” (voz do sub-burocrata mor)
“o carimbo do órgão K”,
esperou, envelheceu.
Kafka: quieto, longilíneo, gentil e protocolar
(como o seu próprio estilo: cartorário- sutil
relatório para ser lido nas entrelinhas),
contempla uma barata passeando nas bordas
do processo, castelos sonâmbulos,
américas perdidas (inúteis caravelas),
Esperou mais – sorriso insubornável,
Franz Kafka retira-se –
plagas que não conhecemos.

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*Este poema obteve o 3° lugar – concorrendo com mais de 700 trabalhos em evento de âmbito nacional – no III Varal de poesias da UNIFAMMA – Faculdade Metropolitana de Maringá, Paraná, 2008.

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O poeta se despede (Carlos Nóbrega)


 
Fechar o zíper dos cílios,
fechar a braguilha do olhar:
Calmar o falo do olho
que em tudo que vê quer tocar.
Parar de ter fome e sede
por toda palavra que há,
Jogar o corpo na rede
jogar a alma no ar,
Deixar a alma brincar
o jogo da amarelinha
até que ela chegue ao Céu
Até que não seja mais minha.
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Do livro Árvore de manivelas

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