suas sombras
aves migratórias
Cada pétala
um dedo
uma folha
teias de tuas aquarelas
Evaporo
em pensamentos
roço palavras
brinco com os dedos
que assombram as paredes
Fenda nua
pelas janelas das ruas
me emolduro ao fantasma
em que me chamas
Sinto tua respiração
as sílabas silenciosas
e me guardo no sonho em que me esperas...
/////
Franz Kafka (1883-1924),
três quilos mais magro,
enigmático sorriso no canto da boca,
renasceu numa repartição do INSS,
misteriosa demanda. .
O velho Franz esperou em cadeiras mofadas,
“falta um documento” (voz do sub-burocrata mor)
“o carimbo do órgão K”,
esperou, envelheceu.
Kafka: quieto, longilíneo, gentil e protocolar
(como o seu próprio estilo: cartorário- sutil
relatório para ser lido nas entrelinhas),
contempla uma barata passeando nas bordas
do processo, castelos sonâmbulos,
américas perdidas (inúteis caravelas),
Esperou mais – sorriso insubornável,
Franz Kafka retira-se –
plagas que não conhecemos.
_______
*Este poema obteve o 3° lugar – concorrendo com mais de 700 trabalhos em evento de âmbito nacional – no III Varal de poesias da UNIFAMMA – Faculdade Metropolitana de Maringá, Paraná, 2008.
/////