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terça-feira, 5 de julho de 2011

A chave do tamanho (W. J. Solha)



As obras de arte às vezes nos levam a Lilliput, às vezes a Brobdingnag. O que importa é se são perfeitas.
Sobre os poemas de Sérgio de Castro Pinto foi dito que são claros, ágeis, nítidos, suficientes (Câmara Cascudo); escritos com maestria e senso de humor (Ferreira Gullar); têm uma concisão que beira com frequência a lapidaridade (José Paulo Paes); coisa de quem monta o mundo em pelo (Lygia Fagundes Telles); têm o dom de captar o incaptável e de ver o invisível (Hildeberto Barbosa Filho); são a reinvenção da metáfora (José Louzeiro); obra de um poeta com astúcia verbal (Fábio Lucas).

O homem eterno (Henrique Marques-Samyn*)

(leitura de um poema de Francisco Carvalho)



(Pablo Picasso, Portrait d'homme barbu, 1895)

Retrato para ser visto de longe

Sou um ser, o outro é metade
que não sabe de onde veio.
Sou treva, sou claridade.
Solidão partida ao meio
e entre os dois a eternidade.

Sei quem sou, não me conheço.
Parado, estou sempre indo
para um país sem regresso.
Sou fonte e estou me esvaindo,
fluir sem fim nem começo.

Coração partido ao meio,
pulsando em cada metade.
O lirismo do espantalho
a espuma do devaneio.
Entre os dois a eternidade.

(de Pastoral dos Dias Maduros, 1977)