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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Torpor (Cláudio B. Carlos (CC))



Eu não queria ouvir o que ela tinha para falar. Como num transe, eu apenas via o mexer dos lábios murchos da velha, sua dentadura frouxa, e o bailar de sua língua saburrosa. Tudo sem som. Eu não escutava nadica de nada. O buço da velha lhe sombreava o lábio, e se misturava com os pelos que lhe saíam pelas ventas. Vez em quando algum perdigoto da bruaca me atingia o rosto. Eu permanecia imóvel. Eu não queria ouvir nada. Nadica de nada. No pátio um dos piás chutou a pelota, que entrou pela porta da cozinha, bateu no pé do fogão a lenha, depois no pé da mesa, espantou o gato que passava preguiçoso, veio girando, girando, girando, até que esbarrou em mim, me tirando do torpor. Lá fora começava um chuvisqueiro finíssimo, parecido com neve. E eu que não queria ouvir o que ela tinha para falar escutei a última frase do falatório da velha espanhola: O velho está morto.
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Do livro O palhaço do circo sem graça (a sair em 2012).
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A poesia (in)definida de Luciano Maia (Inocêncio de Melo Filho)

(Luciano Maia)

De Platão aos nossos dias, não tem sido fácil definir. Mas definimos assim mesmo com a finalidade de sintetizar, esclarecer, determinar e explicar... Esta circunstância nos conduz à poesia de Luciano Maia que se define por ação em todos os sentidos. Pode-se dizer agora que a poesia de Luciano Maia encontra-se absolutamente definida? Se considerarmos que a obra é aberta – Umberto Eco – ainda há muito que dizer. E de fato há. Neste contexto o leitor poderá se dar o exercício literário e apresentar novas definições significativas. É o que faz Francisco Carvalho na sua avaliação crítica: