Libido aos pedaços Carlos Trigueiro Editora Record |
No novo romance que saiu agora pela Record, Carlos Trigueiro – apesar de confirmar que sempre se deixou e se deixa conduzir por invisível mão machadiana – reafirma-se como criador raro: pode-se assegurar, logo à primeira vista, que qualquer página de Libido aos Pedaços tem estilo tão pessoal quanto um detalhe de Warhol, Aleijadinho, Gaudí ou Philip Glass. É visível o esmero com que o autor elabora cada frase, até que o efeito especial esperado lhe aflore. Se me deslumbravam, quando menino, versículos como “Há três coisas que me maravilham e uma quarta que não entendo”, pinçada por meu pai nos bíblicos Provérbios; se me alumbraram, depois, achados de Guimarães Rosa, como “Coração de gente: o escuro, escuros”; e os de García Márquez: “El mundo era tan reciente, que muchas cosas carecían de nombre”, imagine-se a sensação de reencontro de qualidade, quando li esta descrição que Otávio Nunes Garcia, narrador de Trigueiro, faz da bela cunhada (e psicanalista) Larissa: