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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Clauder Arcanjo visto de longe e de perto (Nilto Maciel)



Clauder é muito recente no meu mundo, embora não seja dos mais jovens na extensa relação de amigos escritores com quem me correspondo há muitos anos. Meu conhecimento dele se deu já no terceiro milênio. Desde quando surgiu no universo impresso das letras. Ou terá ele me descoberto? Clauder se iniciou como resenhista num jornal de Mossoró, “escondido sob o manto do Carlos Meireles, homenagem a Drummond e Cecília, dois poetas que sempre leio e releio”. Esse mesmo Carlos logo virou contista, em 2003, e, a seguir, poeta. É desse tempo minha leitura dele. O homem, porém, só cheguei a ver alguns anos depois, numa de suas visitas a Fortaleza. Marcamos encontro, sem nos conhecermos. Eu, ele e Pedro Salgueiro. Não guardo detalhes da reunião. Nesse tempo eu andava perdido, cheio de problemas, quase pronto a me dar o ponto final. Porém, antes de cumprir o desígnio fatal, telefonei para Airton Monte (o psiquiatra, não o escritor). Que você acha da ideia de saltar do alto da Torre Quixadá? Quem? Qualquer pessoa. Depende, meu amigo. De quê? E terminou me envolvendo com tantas perguntas. No dia seguinte, marquei consulta com outro doutor. Fui atendido por uma secretária lindíssima e muito risonha. Quase consegui esquecer o motivo de minha ida ao consultório. Pode entrar. O doutor Leonardo o espera. O homem parecia um ser de outros tempos: desgrenhado, roupa rasgada, óculos de fundo de garrafa, uns livros antigos abertos sobre a mesa, mapas astrais, a luz mortiça, cheiro de enxofre ou incenso de turíbulo. Perguntou os motivos de minha visita. Não vim visitá-lo, doutor. Vim consultar-me. Essa ideia de pular do alto de um prédio não me parece sensata. Não, não é nada sensata. Só um maluco pode pensar nisso. Sugiro a aquisição (se o senhor já não tiver adquirido) de uma pistola automática, com silenciador. Custa caro, mas vale a pena. Não falha. E olhava para mim com olhos de sadismo. Fiquei tão apavorado que saí da sala a correr. Esbarrei na bela funcionária, que sorria lindamente, dei-lhe um beijo apressado na boca, e desci as escadas. Mas voltemos a Clauder, que não tem nada com esta história de suicídio.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Águas quentes (Assis Coelho)



Quase tudo naquele hotel de Caldas Novas borbulhava de alegria. Crianças corriam e caíam nas piscinas com gritos estridentes. Muitas mulheres bronzeavam um corpo naturalmente branco. Outras mais receptivas aos ditames da natureza, portavam grandes chapéus que sombreavam suas rugas e estrias. Alguns homens com proeminentes barrigas estavam há horas no poolbar bebendo cerveja e esvaziando a bexiga no mesmo local. Indiferentes ao odor de urina continuavam ali bebendo placidamente, observando os passantes. O olhar se intensificava e buscava um movimento rotativo do pescoço um belo corpo de passava com requebros e indiferente aos olhares inquisidores.