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sábado, 17 de dezembro de 2011

O Tempo de Iluminadas Palavras (Tânia Du Bois)



“Na manhã iluminada de lembranças refila a cor do sentimento...” (Carlos Vogt) O tempo pede palavras de luz. O amor, a dúvida, a dor e a luz estão presentes no sentimento sobre a vida e a condição humana. Criamos a ilusão da luz por uma questão organizacional e vivemos em função do tempo. “As luzes acesas / as portas abertas / as janelas acesas / todas as coisas acesas. // Bem aceso o viver.” (Álvaro Pacheco) A luz atravessa o tempo e, ainda assim, permanece dentro de nós com real importância. O objetivo fundamental é preencher o vazio com a luz que encontramos na arte literária, como em Lindolf Bell: “Seja o poema/ o homem devorado pela luz...”; em Gilberto Mendonça Telles: “... E deve haver os sentidos latentes/ que vão dando luz/ às coisas ausentes.”; em Jorge Tufic: “... mas é o imenso/ que de mim/ se ilumina.”; e em Luiz de Miranda: “A vida traz a luz/ sem a penúria de perder/ o azul/ na avidez do corpo.”

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Maria e Paul (João Soares Neto)



Maria era a jovem venezuelana morena, encarregada da limpeza. Paul, quarentão descendente de irlandês, sardento, cuidava da segurança da empresa, que ocupava todo o andar. Há muito, estavam envolvidos e ninguém notava. Disfarçavam bem, nem olhavam um para o outro na frente de estranhos. Eram obrigados a chegar cedo. Ela, para fazer a limpeza dos banheiros, copa e salas, reabastecer as máquinas de fazer café e limpar as grandes janelas de vidro. Ele, para checar o equipamento de segurança, que o obrigava a seguir uma rotina de desligar os alarmes, acionados na noite anterior, e reprogramar as câmeras de vídeo para o dia de trabalho que começaria às dez horas. Eram senhores absolutos do andar por aquelas breves horas e corriam contra o relógio para terminar o trabalho e terem tempo de fazer o amor diário.