Translate

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Passio (Emanuel Medeiros Vieira)

(Para o Fábio Vieira Heerdt)

(...) “E de moda em moda, ocupamos o tempo que, senhorio cruel, nos desaloja”.
(HP)

A) Aqui, irrompe o pranto
não a redenção.
B) Redigo o diário de bordo
(o mar é interior)
C) Preparo o inelutável ritual:
pronto está o farnel: água no cantil, pão de centeio.
(Folha de papel em branco, lápis, borracha.)
Retenho o cheiro de orvalho – caído numa manhã de infância.
D) Restaram empáfias, vaidades, simulacros, engenhocas eletrônicas.
E) Paixão vem do latim Passio.
A tradução é sofrimento?
F) O estoque de capital anunciado não me sacia.
G) Nada me sacia?
H) Navegador do Apocalipse?
I) O mar não me alcança – a juventude longe.
J) Luz para o caminho: uma vela só vale acesa.

(Brasília, maio de 2010, e Salvador, novembro de 2011)
/////

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Braúna (W. J. Solha)


Li, dele, os contos de Como um cão que sonha a noite só e os versos de Metal sem Húmus. Sintonia, no entanto, é coisa de momento, de magia. Passei séculos para aceitar a Chacona de Bach, esmagado pela beleza imponente da Tocata e Fuga em Ré e da Paixão segundo São Mateus. Daí que o que me marcou mesmo, do cearense Dércio Braúna, foram os detalhes de A Selvagem Língua do Coração das Coisas. “Detalhes” no sentido usado em artes plásticas, em que pormenores de algumas obras encantam tanto ou mais que elas inteiras.
Parece que a propósito, o poeta diz, num dos poemas desse livro:
Deslumbrar de tudo
é que bem queria!
Mas o coração
(um bloco de pedra todo riscado com gritos)...