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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Programa de leitura 2012 (Geraldo Lima)

(Geraldo Lima)

(Excerto)

Há dois escritores brasileiros de cuja obra só há pouco tempo tomei conhecimento. Trata-se de Nilto Maciel e de Claudio Parreira.

Durante a década de oitenta ouvi falar de Nilto Maciel, que, à época, vivia em Brasília. Nunca nos encontramos por aqui.

Tampouco tive a sorte de esbarrar com suas narrativas. Agora, vivendo em Fortaleza, sua obra chega até mim. Foi através do seu blog “Literatura sem Fronteiras” que cheguei aos seus textos, mais precisamente aos seus contos.

Posso afirmar que são o que de melhor se produz em termos de ficção hoje no Brasil. E olha que Nilto vem produzindo há tempo. É, sem dúvida, senhor do seu ofício. Só não é conhecido por um público leitor maior por causa dessas distorções que a ideia de mercado produz. Mas, pouco a pouco, ele vai reunindo em torno de si um grupo seleto de admiradores. Pessoas que se sentem cativadas pelo modo irreverente com que ele conduz a narrativa, pelo humor, pela inteligência e pelo olhar crítico que lança sobre a realidade. Sua prosa vai, às vezes, na direção do fantástico, do absurdo, mas guardando sempre os matizes da região em que vive, no caso, o Nordeste. Já li os seus contos reunidos em dois volumes publicados pela Editora Bestiário. Tenho agora em mãos o seu belo livro “Os Guerreiros de Monte-Mor” (Armazém da Cultura, 2011). É ele que planejo ler ainda neste primeiro semestre. A orelha do livro é de Nelly Novaes Coelho, e são suas estas palavras: “Novela que faz ri e que dói, ‘Os Guerreiros de Monte-Mor’, entre outras verdades contundentes, denuncia a injustiça social profundamente arraigada na realidade do povo brasileiro (incluindo descendentes de qualquer raça).” Mais recentemente, Nilto Maciel tornou-se um colaborador fixo do site “O Bule”, postando, todo dia 25, um conto do livro “Luz Vermelha Que se Azula”.

( www.jornalopçao.com.br – Goiânia, janeiro de 2012)
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domingo, 22 de janeiro de 2012

O grande dia (João Soares Neto)



 
Nascera negro, pobre e paralítico. É bem verdade que não era mais paralítico, mas ainda tinha sequelas da poliomielite. Sua mãe, por mera ignorância, não o imunizara com a vacina salvadora. Também, desculpava-se ele, sua mãe dedicou o resto da vida a protegê-lo, a prepará-lo para o mundo que ela não entendia e achava cruel. Fora abandonada pelo marido, um plantador de amendoim dos arredores de Atlanta, na Geórgia, que a trocara por uma loura oxigenada do Texas e se mandara para Sausalito. Perdera seu homem, mas não a vida. Seu trabalho, noite e dia, como atendente de um hospital público, deu-lhe sustento, uma pequena casa na região sul da cidade, onde os negros viviam e procriavam muito.