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terça-feira, 27 de março de 2012

Quatro epigramas (Hilton Valeriano*)


(Ariadne e Bacco, do pintor neoclássico Antoine-Jean Gros)

Marta, para todas as horas possíveis o amor.
Assim o ciclo remissivo das estações
traz à primavera a esperança em flor.


*
Marta, preciso é o tempo a recobrar sua lição.
Assim a complacência dos gestos e sua missiva.
Circunscrito no horizonte da palavra
o amor é mais que uma definição.


*
Marta, assim principia o amor:
Inelutável como a aurora,
a luz do Criador.


*
Semeiam as vagas a inconstância e o porvir.
Pranteiam as flores o efêmero jardim.
Porém, com vagos e remotos sonhos,
celebram, os insanos, a glória de serem humanos.

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*Hilton Valeriano. Professor de filosofia na Rede Pública de Ensino do Estado de São Paulo. Editor do blog Poesia Diversa (www.poesiadiversidade.blogspot.com), com poemas publicados em revistas como Zunái, Germina, Sibila, Jornal de Poesia, Diversos-afins.

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segunda-feira, 26 de março de 2012

Entre o épico e o thriller (Henrique Marques-Samyn)




Já pela referência tolstoiana em seu título, Arkáditch cria uma expectativa: de que será um livro sobre livros − o que não é necessariamente ruim, uma vez que a literatura sobre literatura sempre foi praticada (essa é, aliás, uma dimensão constitutiva de toda obra literária, ainda que nem todos os autores o explicitem; entre os que tentaram ocultá-la, talvez os mais radicais tenham sido os neo-realistas do princípio do século XX). Não obstante, a expectativa criada por W. J. Solha é desfeita já nas primeiras páginas do romance, em que assoma um turbilhão de referências concretas, configurando o âmbito em que se situa a narrativa (João Pessoa) e denunciando a proposta de se compor não uma ficção sobre a ficção, mas sobre os liames entre a literatura e a vida, com larga vantagem para a última. O texto de orelha, aliás, cuida de enfatizar que “o autor criou personagens em que se serviu de várias experiências vividas por ele mesmo”, arrolando exemplos: Zé Medeiros, o protagonista, tem um filho presidente do Sindicato dos Bancários da Paraíba, instituição da qual o próprio Solha foi um dos diretores, na década de 1980; Solha tem um filho baixista, enquanto Zé Medeiros tem uma filha cellista, e assim por diante.