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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Dobre de finados (Emanuel Medeiros Vieira)

(E uma vida restaurada)

(Medusa, de Caravaggio)

É-se príncipe por virtude ou por fortuna – sabia Maquiavel.
Seremos anjos por bênção ou danação.
Não há melancolia sem memória.
Não há memória sem melancolia.
Escutamos há tanto tempo o dobre de finados dos sonhos pretéritos.
Embriagados com a nossa própria crueldade, optamos por engenhocas eletrônicas– quinquilharias, maquinários.
Deslumbrados – resignados ou indiferentes à sorte alheia.
São variantes: acabamos sempre escrevendo o mesmo livro.
(...) “Noto que estou envelhecendo; um sintoma inequívoco é o fato de que não me interessam ou surpreendem as novidades, talvez porque observe que nada de essencialmente novo há nelas e que não passam de tímidas variações. Quando era jovem, atraíam-me os entardeceres, os arrabaldes e a desventura; agora, as manhãs do centro e a serenidade. Já não brinco de ser Hamlet.”
(Jorge Luis Borges, “O Congresso, em “O Livro de Areia”)
Seremos anjos por bênção ou danação.
E estou numa manhã recém-fundada – o mar, uma gaivota, o trapiche da Praia de Fora, um pai, o menino, a mãe, e um arco-íris.

(Brasília, abril de 2012)
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Quintal (Carlos Nóbrega)



Quando a noite é clara
sobre o rio manso
a flor da noite
se despetala
sobre a água em dança.
Dá para colher num balde
uns litros de lua.

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