Deixo-lhe a melodia tecida nas cordas da minha carne, nos acordes da minha memória, na cadência do meu coração, a melodia-existência, labiríntica como o espírito, misteriosa como o tempo, definitiva como a morte. Último parágrafo do romance
Aquela que até agora era conhecida como brilhante contista, não começa o seu primeiro romance (Editora Rocco, Rio, 2012) com ganas de deslumbrar o leitor. Nada parecido com as quatro notas iniciais da Quinta de Beethoven; com as marteladas de piano que abrem o concerto número um, pra piano e orquestra, de Tchaikosky; a clarineta virtuosística de Rhapsody in Blue, a imponência da Abertura de O Guarani. Porque a violinista Duína – a personagem-narradora de Marília Arnaud – não nos quer levar a nada de grandioso, imponente, grandiloquente, arrebatador. Seu clima é o da Ária na Quarta Corda Sol, de Bach; do Adagietto da Quinta de Mahler; a do tristíssimo, lento – e maravilhoso – solo das peças para piano de Éric Satie, como Trois Gymnopédies e Trois Gnossiennes.