Em certo período da vida, eu sentia enorme prazer em conversar. O velho cavaco, a prosa solta, descontraída. Os amigos valiam tudo. Mais do que os livros. Passado algum tempo, pedi perdão aos meus papiros por tê-los trocado por adolescentes. Voltei a passar horas e horas com os olhos enfiados nas páginas amareladas dos impressos. Mais adiante, senti saudades dos companheiros que falavam de sexo, violência, aventura, filmes, viagens, tudo invenção deles. Tinham crescido e já bebiam além do permitido, namoravam de verdade, viajavam mesmo. Eu largava os compêndios e corria para ouvi-los. Foi quando descobri uns sujeitos que nunca via. Seus nomes e endereços apareciam em jornais miúdos (chamados “nanicos”, “marginais” ou “independentes”). Moravam em cidades distantes daquela em que eu vivia. Quase ninguém dispunha de telefone. Havia, porém, o correio. Aprendi a escrever cartas. O calendário passava e a gente envelhecia com a rapidez das mudanças. Então inventaram computador, Internet, e-mail, blog. E eu troquei o papel e a caneta das cartas pelas teclas. Hoje (e esse hoje vem de alguns anos) me correspondo (converso, como antigamente) com dezenas de pessoas. Uns são apenas colaboradores do meu blog. Despacham pelo e-mail poemas, contos, crônicas, artigos, resenhas. Pedem divulgação. Outros remetem suas publicações, solicitam leitura e avaliação. Tenho centenas deles em minhas estantes. São tantos que, aos poucos, conseguem afugentar meus primeiros mestres: José de Alencar, Camilo Castelo Branco, Alfred de Musset. Uns me enfastiam desde a capa, o título. Leio a primeira página, passo à segunda, sinto sede, corro à geladeira. Outros me enchem de alegria.