(Fernando Pessoa)
Recebi ontem visita de Maria Godiva, estudante de jornalismo. Nunca nos tínhamos visto. Minto; viu-me numa livraria, mês passado. Confessou ter sentido vergonha de se aproximar de mim. Segundo ela, mais de seis pessoas me rondavam, olhos grudados em meus óculos. Já me “conhecia” da Internet. Indagou, por e-mail, se eu poderia lhe conceder uma “entrevista”. E deu os motivos: “Não sou ainda jornalista, mas gosto muito de ler e pretendo ser escritora”. Sua primeira ida à minha casa lhe rendeu duas horas de conversa, minha simpatia e uma biblioteca. Dei-lhe os meus 21 livros. Caprichei nos autógrafos. Passei meia hora a rabiscar frases de lobo mau a caminho da senilidade em último grau: “Para Godiva, que monta o alazão da candura...”.